
O ex-governador José Melo, cassado em 2017 e preso no mesmo ano suspeito de participar de um esquema de corrupção na Saúde do Amazonas, surpreendeu e causou frisson no meio político nesta segunda-feira, dia 16. .
Melo compareceu à posse do novo presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Mário de Mello, nomeado como conselheiro pelo ex-governador, e cumprimentou sorridente autoridades presentes.
Os eventos de posse e entrega de medalhas, comuns em fins de ano, são sempre concorridos por políticos e ocupantes de cargos públicos de primeiro e segundo escalão.
As liturgias do poder costumam ser repetitivas e enfadonhas nestes momentos. À mídia sempre rende a observação dos discursos e os recados que emitem farpas entre políticos, a depender dos conflitos de cada fase.
Desta vez, o diferencial não veio pelo discurso. A presença do ex-governador falou mais alto. O intelectual, filósofo canadense, que viveu entre 1911 e 1980, Marshall McLuhan defendeu uma ideia que ajuda a entender a aparição de Melo, neste momento: o meio é a mensagem, porque também é conteúdo. E muitas vezes traz mais informações que os discursos oficiais.
Melo se afastou de todos e vive recluso desde a prisão e o início das investigações contra ele na Maus Caminhos, em 2017.
Após cerca de três meses preso no sistema prisional, assim com a mulher dele Edilene Oliveira, evitou qualquer aparição pública que não fosse no contextos das audiências.
Apenas procurou a imprensa, por meio de advogados, quando boatos de delação premiada circularam envolvendo seu nome. O ex-governador emitiu nota negando que ele ou a mulher tomariam este tipo de decisão.
A presença de Melo no evento, ocorre em meio à expectativa de proximidade de sentença na denúncia feita contra ele na Maus Caminhos.
José Melo ressurge com a aparência que marcou seu perfil político: cordial e sorridente nos cumprimentos.
Ao contrário dos tempos anteriores em que era aliado de primeira linha de todos os ex-governos que o precederam, Melo desta vez deixou sensação de dúvida se dará outros passos nas aparições públicas e frissons no meio político. Quais serão os passos?
No corredor
No vídeo feio pelo jornalista Daniel Jordano da Rádio BandNews Difusora, na parte interna do Teatro Amazonas, José Melo cumprimenta e abraça o governador Wilson Lima (PSC), que o trata com gentileza. O governador cassado continuou em um corredor de passagens de autoridades que acabam ficando frente a frente com ele.
A procuradora geral de Justiça do Amazonas, Leda Mara, também o cumprimenta e ele faz sinais cordiais a ela com as mãos.
O procurador chefe do MPF e um dos titulares da Maus Caminhos, Thiago Pinheiro Corrêa, cumprimenta José Melo e sorri.
O senador Omar entra no mesmo corredor, fala alto “Melo”, estende a mão e vira para sair por outro lado. É alertado que o caminho dele deve seguir na direção que o ex-governador e retorna. Melo segue por outro lado.
O presidente do TRE-AM, desembargador do TJ-AM João Simões, também passa por Melo e o cumprimenta sem sorrisos e de forma mais rápida.
Melo da platéia
O palanque de autoridades colocou, lado a lado e próximos, políticos que passaram por conflitos recentes ainda não defeitos publicamente: o prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), o governador Wilson Lima (PSC), o senador Omar Aziz e o presidente da ALE-AM, Josué Neto (PSD) eram observados pelos presentes, assim como pelo ex-aliado José Melo.
O ex-governador foi lembrando no discurso do novo presidente do TCE, que disse ter respeito por ele.
Antes disso, o primo de Mário de Melo e ministro do STF, Marco Aurélio de Melo disse, em seu discurso, que gratidão não se paga com toga.
Foto: Daniel Jordano/BandNews Difusora