
Professores e alunos de unidades particulares de ensino, da UEA, da rede pública estadual e municipal e ex-alunos da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) se uniram ao protesto organizado por professores e estudantes da instituição contra a política de cortes de orçamento do Governo Federal.
O número de manifestantes diverge conforme as fontes. A Polícia Militar do Amazonas aponta 3 mil pessoas no ato. Os professores que organizaram o evento indicam público de 35 mil pessoas e que o cálculo foi feito por um matemático.
O fato é que o protesto lotou a Eduardo Ribeiro. Ainda havia manifestantes entrando pela Sete de Setembro, quando a avenida principal do Centro Histórico de Manaus estava tomada por pessoas de todas as idades que mostravam e compartilhavam suas insatisfações em cartazes de cartolina, faixas, folhas de caderno, vaias e gritos contrários ao que consideram ataques e guerra contra a Educação promovidos pelo Governo Federal e também pelo Governo do Amazonas.
Não tive notícia e nem vi, do local em que pude acompanhar o ato e circulando entre os manifestantes, nenhum registro de confusão ou violência.
Vi professoras com os filhos menores de dez anos na caminhada; vi funcionários administrativos antigos da Ufam com rostos identificando a idade avançada, mas com o olhar de esperança e atentos no futuro.
Vi professores, que há décadas dedicam a vida ao ensino público e que não ficaram ricos materialmente com isso, se emocionarem no momento em que também perceberam a avenida Eduardo Ribeiro lotada e o apoio à Educação.
E muitos estudantes descendo dos ônibus e se juntando à caminhada. Fazendo ironias com as palavras do próprio presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, sobre como veem a universidade, os professores e os estudantes.
Ao final, na Praça do Congresso, observei semblantes cansados de professores que já haviam enfrentado caminhadas na Ufam pela manhã.
Perguntei à professora doutora em Comunicação Social, Ivânia Vieira, que estava no protesto, sobre o cansaço físico. Perguntei se ela não queria sentar um pouco. Não acolheu minha proposta. Ela respondeu que a gripe piorava o efeito no corpo e sorriu: “É um cansaço que alivia a alma”.
O professor mestre em Educação da Ufam, Jacob Paiva, que de cima do carro de som coordenava as lideranças que subiam no espaço pequeno para fazer uso da palavra aos manifestantes, em vários trechos do percurso se preocupou com os que olhavam das portas das lojas e das paradas de ônibus.
Jacob explicou porque os professores e estudantes estavam nas ruas mais uma vez. A maioria ouviu em silêncio ou registrou com os celulares a manifestação.
“É um ato histórico e vitorioso. Vamos reverter esses cortes nas ruas e continuar com quantos atos forem necessários”, avaliou o professor mestre em Educação da Ufam, Jacob Paiva.
O professor do Departamento de Ciências Sociais da Ufam, Luiz Fernando Souza Santos, ergueu durante todo o percurso da manifestação um livro com a aparência de muito usado, que do lugar de onde eu acompanhava, não consegui ler a capa.
Me pareceu emocionado em vários momentos.
No final, eu perguntei a ele sobre o apoio no ato que os professores da rede estadual prestavam à universidade.
“A participação dos professores da rede pública estadual é importantíssima porque há muito tempo a gente não se percebia como uma categoria única. A greve de professores da rede estadual e municipal, que pode vir a acontecer, faz parte da luta em defesa da Educação”, avaliou o sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Ufam, Luiz Fernando Souza.
Wilson Lima
O governador Wilson Lima (PSC) foi tão criticado quanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL), no ato de ontem no Centro de Manaus. O nome dele foi até mais citado que o de Bolsonaro no carro de som e na repetição da multidão dos gritos de ordem e nas vaias coletivas.
Lideranças da Assprom e do Sinteam, pelo microfone, exigiram respeito do governador à Educação e aos professores.
Estudantes também fizeram as mesmas cobranças afirmando que o governador e o presidente escolheram a “Educação” como inimiga. Wilson, no entanto, foi poupado dos gritos de “fora” dirigidos a Bolsonaro durante o protesto.
A onda de insatisfação nacional tendo como centro ou pico das manifestações de ontem a defesa da “Educação” pode arrastar o nome do governador do Amazonas, Wilson Lima, neste redemoinho.
Ninguém sabe ainda a intensidade com que isso deve continuar a girar. A greve de professores no Estado, que podia nem ter começado, e já completa um mês colocou o nome de Wilson na roda de protestos com pauta nacional.
Ter o nome associado a palavras e momentos que estão no pico da insatisfação popular pode gerar danos políticos irreparáveis, no presente e no futuro.
No passado recente, o alvo era a “corrupção”. Agora, as ruas constroem novo mote: ataque à “educação”.
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-governador José Melo e os políticos que estavam com os nomes vinculados ao dele pagaram preços altos.
Foto1: Rosiene Carvalho