Quatro dias após violenta agressão e importunação sexual, polícia sequer ouviu agressores

Quatro dias após a violência flagrada por vídeo contra os estudantes universitários Odilon Pereira Velho Filho, 20, e Rayssa Maria Mendonça da Costa, 21, na Banda do Vieiralves, realizada no estacionamento da Faculdade Nilton Lins, Zona Centro-Sul de Manaus, os homens que aparecem nas imagens como agentes da violência sequer foram ouvidos no 12º DIP (Distrito Integrado de Polícia).

De acordo com as vítimas, toda a confusão começou quando Rayssa Mendonça foi alvo de importunação sexual causada pelo grupo de homens que aparecem no vídeo agredindo seu primo Odilon até – e depois – de ele ficar desacordado.

Rayssa e Odilon contam que o primo, ao tentar defendê-la do assédio, passou a ser agredido de forma violenta pelo grupo de quatro homens. Rayssa tentou impedir com o corpo que o primo, no chão, continuasse a ser agredido pelos quatro homens e as pessoas, que na imagem parecem ser da segurança do evento, a impedem.

As cenas que circularam na internet e causaram reação de indignação nas redes sociais em Manaus foram registradas no 1º DIP, Centro, e encaminhada para o 12º DIP que deu prosseguimento ao inquérito, segundo informações da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Amazonas.

Nesta sexta-feira, o advogado de Rayssa e Odilon emitiu nota para “repudiar veementemente” as declarações prestadas numa entrevista à TV Amazonas por um dos homens acusados da agressão, Aldair Lucas Gonçalves dos Santos.

De acordo com o advogado Josemar Berçot Rodrigues Júnior, Aldair diz que ele foi vítima de uma agressão e junto com os amigos reagiu em legítima defesa. Ele nega que o grupo tenha feito a importunação sexual, relatada pelas vítimas.

“Tem-se por totalmente infundadas e desprovidas de veracidade as alegações do Sr. Aldair que, de forma vergonhosa tentou eximir-se de culpa. A verdade está estampada nos vídeos que circulam nas redes sociais e que foram exibidos em vários telejornais e será confirmada no processo por testemunhas oculares dos fatos”, afirma o advogado na nota.

O advogado de Rayssa e Odilon lamenta que até este momento os agressores sequer tenham sido ouvidos na delegacia e defende que, diante da gravidade da agressão e da prova da mesma que representa o vídeo, a prisão preventiva dos agressores deveria ter sido decretada.

Josemar Berçot Rodrigues Júnior afirma que, embora o B.O. tenha registrado o caso como “lesão corporal”, uma série de crimes graves se configuram no caso.

Contra Rayssa, Josemar afirma que os agressões devem responder por importunação sexual e lesão corporal.

Em relação ao primo, que passou a ser agredido após tentar defendê-la da importunação sexual, o advogado disse que o que ocorreu foi uma tentativa de homicídio duplamente qualificada por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa do ofendido.

Josemar destaca que cabe ainda enquadrar o grupo por associação criminosa, previsto quando três ou mais pessoas se associam para cometer ato ilícito.

“Eu conversei hoje com a mãe do Odilon. O sentimento de impunidade é grande, especialmente quando vê nas redes sociais os agressores levando a vida normalmente e o filho lá todo acabado. Hoje, foi ao dentista porque ficou com problema e dor em vários dentes por conta dos chutes que levou”, contou.

O advogado disse que o Odilon ficou com dores na cabeça e que os dois não conseguiram voltar à rotina normal em função do medo que tem dos agressores. Rayssa cursa o 7º período de Direito e Odilon o 3º período de Medicina, em Manaus.

“Ele e a Rayssa estão perdendo aula. Estão com medo de sair de casa e os agressores estão aí em festas, em restaurantes, dirigindo por aí,
O sentimento de impunidade na família é muito grande. Hoje ouvi a mãe dele chorar por quase uma hora”, contou o advogado.

A reportagem entrou em contato, por telefone, com o advogado Gabriel Gomes, que atua na defesa de Aldair Lucas Gonçalves dos Santos. O advogado afirmou que o inquérito está seguindo seu rumo normal e que preferia não comentar o assunto neste momento e por telefone.

Gabriel disse que daria entrevista sobre o caso na segunda-feira, dia 2.

Foto: Reprodução vídeo internet do dia da agressão