Reabertura de igrejas inflará números de infectados e mortes no AM, afirma estudo

Foto: Família transmite enterro ao vivo pelas redes sociais para familiares durante velório em abril. (Edmar Barros)

A reabertura de comércios, igrejas e templos previstas para o dia 1º de junho e decretadas pelo Governo do Amazonas vai inflar o número de infectados e aumentarão o número de mortes no Amazonas, afirma estudo encaminhados por pesquisadores da Ufam, UEA e Inpa ao MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas).

“A reabertura dos comércios, igrejas e templos prevista para 1 de junho e a retomada dos transportes intermunicipais e interestaduais aumentarão novamente o número de infectados e óbitos”, diz a nota e acrescenta:

“Desta forma, a retomada destas atividades necessitaria de respaldo técnico e científico para ser efetuada. Entretanto, todos os dados do presente estudo indicam que ambos os decretos inflarão o número de infectados em Manaus, aumentando expressivamente o número de óbitos, de forma a causar um novo e maior colapso do sistema de saúde em Manaus, além de colapsar todo o sistema de saúde do estado, uma vez que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) concentram-se em Manaus”, indica trecho da nota.

A inclusão das igrejas na primeira fase da reabertura foi precedida de forte pressão de segmentos religiosos evangélicos. Na coletiva de anúncio do plano de reabertura, o governador Wilson Lima disse que os pastores tinham capacidade de controlar os fiéis para evitarem o contágio e a propagação da doença nas igrejas.

Antes disso, 21 dos 24 deputados estaduais aprovaram um projeto do o deputado estadual João Luiz para que as igrejas fossem reconhecidas como atividade essencial, o que possibilitaria que continuassem funcionando em meio às restrições de aglomeração.

O argumento não convenceu o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, que suspendeu as celebrações presenciais e com aglomeração antes mesmo dos decretos governamentais em todo o estado. A Igreja Católica decidiu manter o fechamento físico dos templos para evitar que os católicos sejam contaminados e corram risco de morte.

A nota técnica assinada pelo pesquisadores sugere que o Amazonas aumente o rigor do isolamento para diminuir o número de infectados, amplie e estabelece testes por amostragem e, após estas medidas, volte a analisar os dados para reabertura gradual com objetivo de evitar mortes de pessoas por covid.-19 ou novo colapso do sistema de saúde.

“Os resultados de nossas análises demostraram que tanto o isolamento social propiciado pelo fechamento do comércio, quanto a interrupção dos transportes intermunicipal e interestadual contribuíram para a redução dos casos e óbitos em Manaus”, afirma trecho da nota.

Isolamento evitou número maior de mortes

O estudo estima que a doença já circulava no Amazonas em fevereiro e que, se os decretos de isolamento, que seguraram parte da população em casa, não tivessem ocorrido o número de mortes diárias em abril teria sido maior.

“Os resultados apontam que, sem as medidas de distanciamento social e as recomendações quanto ao uso de máscaras, teríamos observado mais do que 200 óbitos diários em Manaus por COVID-19 no final do mês de abril”, informa outro parte da nota técnica, que acrescenta:

“Alertamos que qualquer afrouxamento de medidas de distanciamento social, neste momento ou nas próximas 4 semanas, pode levar a um novo crescimento das infecções e óbitos por COVID-19 em poucas semanas, considerando o número atualmente ainda muito elevado de indivíduos infectados (estimados em cerca de 85.000) e a ainda pequena porcentagem de indivíduos em nível populacional (estimada de 10% a 15%)”.

A diminuição do número de óbitos, o estudo atribuiu a melhoria da capacidade de atendimento dos pacientes com maior número de leitos e medicamentos disponíveis para os pacientes, o que não foi acessível a todos no pico da doença.

Outra medida que melhorou a situação em Manaus, segundo a nota, foi a adoção por parte da população do uso de máscaras, com as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Rigor nos protocolos de abertura

O estudo recomenda ainda uma ampliação do rigor na aplicação e fiscalização dos protocolos de reabertura do comércio e circulação de pessoas em Manaus.

Entre os quais, que nenhum passageiro possa entrar no transporte coletivo sem usar máscara e que os comércios assegurem distanciamento de dois metros entre clientes de serviços essenciais, sob pena de perda de alvará.

A nota-técnica é uma análise feita por pesquisadores desta instituição de ensino, tem teor semelhante ao que vem sendo recomendado por infectologistas no Amazonas e no Brasil, mas não torna suas conclusões de uso obrigatório pelo governo na tomada de decisões.

Veja os principais pontos das recomendações para funcionamento do comércio, destacada na nota técnica dos pesquisadores:

” Recomenda-se com base nos protocolos de ação de restrição da mobilidade populacional das diretrizes da OMS e baseado em medidas mais restritivas adotados por outros estados e municípios brasileiros, o funcionamento de:


1- Supermercados, feiras, quitandas e similares (não permitindo o consumo de balcão)*.
2- Retirada de produtos diretamente nos estabelecimentos (válido apenas para restaurantes, lanchonetes e similares).
3- Serviços deliveryᶧ.
4- Hospitais, clínicas, unidades de saúde, abrigos, asilos e laboratórios em geral.
5- Distribuição e a comercialização de medicamentos e materiais médicos e
hospitalares.
6- Clínicas e consultórios veterinários e abrigos de animais.
7- Borracharias e serviços de manutenção de veículos, manutenção de
eletrodomésticos, bombeiros hidráulicos e similares.
8- Serviços de energia elétrica, gás, abastecimento de água£ e combustível.
9- Serviços de agências bancárias.
10- Serviços de comunicação, correios, provedores de internet e similares.
11- Serviços funerários.
12- Ubers e Táxis (Motoristas e passageiros devem obrigatoriamente utilizar máscaras durante toda a viagem, o veículo deve permanecer com todos os vidros abertos todo o tempo, o motorista deve disponibilizar álcool em gel 70% para o passageiro, o motorista deve higienizar o banco e porta do passageiro com álcool 70% entre cada viagem).
13- Transporte coletivo (motorista e cobradores devem todo o tempo utilizar máscaras); disponibilidade de álcool em gel 70% a passageiros que paguem com dinheiro; estacionamento a cada 2h do veículo para limpeza nos apoios de mãos com álcool 70%; o motorista deve recusar ou impedir a entrada de passageiros sem máscaras, podendo acionar a Polícia Militar em caso de recusa de colaboração).
14- Manutenção de funcionários ligados à segurança público ou privada.

*Supermercados e feiras devem providenciar a instalação de pias e deixar disponível sabão líquido aos clientes; supermercados, feiras, quitandas e similares devem disponibilizar álcool em gel 70% a todos os clientes.

Recomenda-se ainda que, para supermercados, um funcionário
esteja responsável pela higienização dos pegadores em carrinhos de supermercado antes destes serem entregues aos clientes.

* Entregadores de Serviços delivery devem obrigatoriamente utilizar máscaras a todo momento ao retirar e entregar as encomendas, ter álcool em gel 70% consigo, realizar a higienização da máquina de cartão na frente do cliente antes do cliente utiliza-la, limpar as mãos com álcool em
gel 70% antes de tocar nas embalagens de comida e guardá-la na caixa de entrega no fornecedor, e antes de retirar a encomenda da caixa de entregas e entregá-la ao cliente. O provimento de álcool e guardanapos para a secagem das mãos deve ser responsabilidade do estabelecimento,
não do entregador. Sendo o estabelecimento a ser responsabilizado caso não seja seguido, mesmo para encomendas via aplicativo Ifood ou Uber Eats.


* Todos os cortes do abastecimento de água devem ser suspensos durante o período de contenção da pandemia, dada a importância do fornecimento de água para a higienização.”