
*Matéria atualizada às 19h25
Sem citar nomes, o ex-secretário de Saúde e coordenador da UGPE (Unidade Gestora de Projetos Especiais), Marcellus Campelo, declarou que o relatório final da CPI da Covid-19 no Senado recebeu pressão política com claros interesses eleitorais.
O posicionamento do ex-secretário foi enviado ao blog pela assessoria de comunicação de Campelo.
“Respeito o trabalho da CPI, mas ficou claro que o relatório final, com relação ao Amazonas – infelizmente –, sofreu pressão política, com claros interesses eleitorais.”, afirma Campelo na nota.
Na última terça-feira, dia 26, Campelo e o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), foram indiciados como responsáveis pelo colapso do sistema de saúde no início do ano no estado e as mortes por asfixia em função da falta de oxigênio no mesmo período.
Um mês antes, Lima se tornou réu no STJ (Superior Tribunal de Justiça) no caso da compra de respiradores inservíveis em loja de vinho enquanto pessoas morriam sem assistência no colapso do sistema de saúde, na primeira onda da covid-19 no estado.
Para o ex-secretário de Saúde, ele fez um trabalho árduo, sem omissão e que salvou vidas. “Jamais me omiti no combate à pandemia, no período em que estive à frente da Secretaria de Saúde do Amazonas. Tenho consciência do trabalho árduo que, com os milhares de servidores da saúde, realizamos para salvar vidas.”, disse.
Campelo diz que está colaborando com as investigações sobre o Amazonas fornecendo documentos até que “a verdade prevaleça”.
Na nota, Campelo prestou solidariedade às famílias que perderam entes queridos e disse lamentar as perdas.
Campelo foi o único gestor do Amazonas a prestar depoimento na CPI da Covid-19. Na ocasião, não teve bom desempenho e foi questionado com críticas pelos senadores de situação e oposição. Um dos pontos mais polêmicos do depoimento foi quando sustentou que só faltou oxigênio na rede pública do estado por dois dias. Foi duramente contestado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
“Secretário, outra pergunta, porque eu nem consegui entender muito bem a sua resposta agora há pouco. O senhor diz o seguinte: que não faltou oxigênio no Estado do Amazonas. Só teria faltado nos dias 14 e 15? É isso? Apenas nos dias 14 e no dia 15? E por que nós tivemos 225 mortes no dia 30? Por que tivemos 195 mortes no dia 26? Por que nós tivemos, agora há pouco, a exposição de um vídeo – de vários vídeos – de pessoas naquele desespero estarrecedor? (…) E o senhor diz na CPI que só faltou no dia 14 e
no dia 15, Secretário?”, disse a senadora na ocasião.
E continuou: “Me desculpa, mas o senhor está tentando infantilizar esta Comissão”.
Campelo argumentou que no mercado faltava, mas não nos hospitais. Eliziane voltou a questioná-lo:
“Mas vem cá: se não tinha nos hospitais, por que as pessoas estavam comprando? Pra quê? Pra levar pra casa? Não estou conseguindo entender. Aquele povo inteiro na frente dos hospitais, Secretário, pelo amor de Deus. As pessoas estavam na frente do hospital, Secretário, com cilindro nas costas pra entrar no hospital. Eu não sei se até não quebraram a porta pra entrar, no desespero desalentador. O senhor está dizendo que não estava faltando cilindro, não estava faltando oxigênio dentro dos hospitais, Secretário?”
Ao deixar a Saúde, após ser preso na 4ª fase da Operação Sangria, Campelo ficou em outra importante pasta do Governo do Amazonas, a UGPE onde era nomeado desde janeiro de 2019. Campelo alega inconsistência na prisão em função dos argumentos apresentados serem relacionados a fatos anteriores à gestão dele na Secretaria de Saúde.

Braga
O indiciamento dele e do governador Wilson Lima ocorreu após cobrança pública feita pelo senador e pré-candidato ao governo Eduardo Braga (MDB), que questionou a versão preliminar do relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL) não incluir o governador e o ex-secretário entre os indiciados pela falta de oxigênio no Amazonas. O relator acolheu o pedido de Braga e indiciou Wilson Lima e Marcellus Campêlo pelo colapso do oxigênio. Para Braga, indiciamento de Wilson Lima é justiça ao Amazonas e aos fatos que motivaram a CPI.
O governador também adotou o discurso de reduzir o indiciamento à disputa eleitoral. Por nota, Lima afirmou que a inclusão do nome dele no relatório final é ação com motivação eleitoral liderada pelo senador Eduardo Braga. “Não fui sequer investigado pela CPI”, alega Wilson Lima.
Leia nota na íntegra nota de Campelo:
“Jamais me omiti no combate à pandemia, no período em que estive à frente da Secretaria de Saúde do Amazonas. Tenho consciência do trabalho árduo que, com os milhares de servidores da saúde, realizamos para salvar vidas.
Outros estados e até países inteiros enfrentaram dificuldades.
Lamento profundamente e me solidarizo com as famílias que perderam entes queridos.
Reitero que tenho total interesse em esclarecer os fatos e venho contribuindo para isso, com depoimentos e fornecimento de documentos. Assim continuarei para que a verdade prevaleça.
Agradeço a solidariedade de servidores da saúde que atuaram firmemente, até com perdas pessoais, contra a pandemia. Agradeço também o apoio que tenho recebido da família, colegas de trabalho e amigos que verdadeiramente me conhecem.
Respeito o trabalho da CPI, mas ficou claro que o relatório final, com relação ao Amazonas – infelizmente –, sofreu pressão política, com claros interesses eleitorais.“
*Matéria atualizada às 19h25: na primeira versão do texto, o blog publicou que Campelo assumiu a UGPE após a exoneração da Saúde. Ele já era nomeado na pasta desde janeiro de 2019.