
O deputado estadual e presidente eleito da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), Roberto Cidade (PV), em entrevista exclusiva ao blog, negou que a escolha dele como novo presidente da casa configure golpe e trama para derrubar o governador do estado Wilson Lima (PSC). A entrevista exclusiva foi concedida nesta quinta-feira, dia 3, após sessão tumultuada que o elegeu como novo presidente do poder legislativo.
Deputado de primeiro mandato e um dos parlamentares ligados a empresas com contratos com o governo nesta legislatura, Roberto Cidade era um dos possíveis nomes de Wilson Lima para a disputa que deveria ocorrer no final deste mês.
Uma reviravolta, que iniciou com a rejeição do nome e Roberto Cidade pelo governo, fez com que o deputado se elegesse como novo presidente da ALE-AM com apoio de parlamentares da situação – que rachou-, deputados de oposição e parlamentares tidos como independentes.
“Aqui a assembleia é a assembleia, o governo é o governo. Dizem muitas coisas, mas eu quero dizer a você que o parlamento está unido. Ninguém está pensando em dar golpe”, declarou Roberto Cidades.
O novo presidente disse que conversará com todos, incluindo os que os ex-colegas de base governista, que não votaram nele. O deputado disse que está ao lado dos deputados que o elegeram.
‘Hoje, eu devo a eles essa presidência e nós vamos sempre votar unidos, independente do que aconteça (…) Saímos mais fortes”.
Reviravolta
Há cerca de dois meses, quatro nomes apareciam na base governista como favoritos na disputa pela presidência da ALE-AM. Os quatro nomes eram Alessandra Campelo (MDB), Belarmino Lins (PP), Saullo Vianna (PTB) e Roberto Cidade.
A importância do cargo ampliou no contexto da instabilidade política do governo em função da investigação da Operação Sangria, que tem como alvos o governador Wilson Lima (PSC) e o vice-governador Carlos Almeida Filho (sem partido).
Nos últimas dias, o nome do deputado Abdala Fraxe (Podemos) também começou a ser cotado e se fortaleceu no mesmo período em que o prefeito eleito de Manaus, David Almeida (Avante), de quem é aliado, aparecia bem nas pesquisas eleitorais.
Já o do deputado Saullo Vianna perdeu força após a deflagração da Polícia Federal que investiga o envolvimento dele com corrupção no município de Presidente Figueiredo. Saullo nega que tenha cometido irregularidades.
Para a disputa da ALE-AM, parlamentares demonstravam rejeitar Alessandra Campelo. Com isso, Belão e Roberto Cidade pareciam ser os favoritos.
Esta semana, parlamentares da base foram informados que a deputada Campelo era a indicada do governo. A oposição percebeu as rachaduras na base e, nas conversas bastidores, concluíram que tinham maioria de votos a três semanas da eleição.
No início da manhã desta quinta-feira, dia 3, a ALE-AM votou uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que autorizou a flexibilização da data da votação da presidência da casa. Quinze deputados foram a favor.
Na sequência, foram abertas as inscrições para quem queria disputar a mesa diretora. Alessandra não apareceu como cabeça de chapa governista e Belarmino Lins liderou o grupo. No discurso, Belão, como é conhecido o deputado, acusou manobra e disse que a ALE-AM poderia virar alvo da PF (Polícia Federal).
A chapa não conseguiu nomes suficientes para todos os cargos da mesa diretora e terminou com oito votos: Belarmino Lins, Alessandra Campelo, Joana Darc (PR), Augusto Ferraz (DEM), Abdala Fraxe, Cabo Maciel (PR), Dr Gomes (PSC) e Saullo Vianna. O placar de derrota ocorre menos de quatro meses do governo articular maioria para derrubar a tramitação de um pedido de impeachment contra Wilson e Carlos.
A chapa vencedora recebeu os votos dos seguintes deputados: Sinésio Campos (PT), Fausto Júnior (PRTB), Josué Neto (PRTB), Wilker Barreto (Podemos), Dermilson Chagas (Podemos), Therezinha Ruiz (PSDB), Mayara Pinheiro (PP), Roberto Cidade, Carlinhos Bessa (PV), João Luiz, Felipe Souza (Patriotas), Serafim Corrêa (PSB), Delegado Péricles (PSL), Adjuto Afonso (PDT) e Álvaro Campelo (PP). No início do governo, apenas dois era oposição: Wilker e Dermilson.
Outro fator que irritou os deputados, segundo parlamentares da base ouvidos pelo blog no contexto da eleição desta quinta, foi a indicação de três nomes como opção para a próxima vaga de conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), que é de autonomia da ALE-AM escolher. Os parlamentares disseram que não iam aceitar a imposição de não serem ouvidos para os cargos em disputa. Além disso, havia nomes que somam antipatias de deputados.
A deputada Alessandra Campelo disse que a eleição era uma orquestração para tentar derrubar o governador Wilson Lima (PSC), e a articulação envolveu a definição da vaga do TCE por parte do grupo. Nos bastidores, os deputados dizem que o atual presidente da ALE-AM e vice-presidente eleito, Josué Neto, é o cotado pelo grupo para a vaga que deve ser aberta em abril.
Joana Darc disse que deputados foram procurados para vender voto ao valor de R$ 200, cada. Depois da votação, Roberto Cidade deixou o plenário sob os gritos de “bandido” do deputado Saullo Vianna. Nesta quinta, deputados cogitaram acionar a Comissão de Ética contra os dois.
A seguir, leia a entrevista de Roberto Cidades:
Ninguém está pensando em dar golpe. Ninguém está pensando em nada…
Rosiene Carvalho: Que confusão foi essa, deputado?
Roberto Cidade: Olha, o parlamento é deputados. Eu tive a honra hoje de a ALE-AM votar em mim. Tive 16 votos, de amigos. Ninguém fez golpe, ninguém planejou nada. Já teve muitos processos aqui que foram votados mais rápido que isso. E hoje foi um momento que o parlamento decidiu dessa forma. Respeitando os outros colegas, não xingamos ninguém. Não falamos … no caso, a oposição hoje. Mas eu vou conversar com todos os colegas depois. Dizer que o parlamento é de todos. Aqui a assembleia é a assembleia, o governo é o governo. Dizem muitas coisas, mas eu quero dizer a você que o parlamento está unido. Ninguém está pensando em dar golpe. Ninguém está pensando em nada…
Rosiene Carvalho: Foram 16 votos dos 24…
Roberto Cidade: Saímos muito fortes. Quero te dizer uma coisa que eu estou com os meus colegas. Hoje, eu devo a eles essa presidência e nós vamos sempre votar unidos, independente do que aconteça e ninguém vai sofrer pressão como sofremos hoje.
Rosiene Carvalho: O senhor recebeu votos da base, de deputados que se dizem independentes e dos de oposição.
Roberto Cidade: É, o que acontece? Quando a eleição é da Casa, é uma eleição entre os deputados. E como é que vai ter da base e da oposição? É do parlamento. Ninguém é obrigado a seguir a orientação do governo. A gente é obrigado a seguir a orientação de cada um, como cada um quer e vai votar. É questão de afinidade a presidência. É questão de confiança. Vão inventar muita coisa, mas eu tenho certeza, pode revirar minha vida, foi tudo em consenso com meus colegas. Todo mundo é do bem.
Rosiene Carvalho: O senhor disse que ninguém falou nada contra a oposição. O senhor, no entanto, foi atacado. As deputadas Joana e Alessadra disseram que o senhor há poucos dias corria atrás do governador tentando construir sua candidatura à presidência da ALE-AM por meio da base governista.
Roberto Cidade: Assim, isso aí é natural. Hoje, eu sou de centro. Todo mundo é de centro. Não fiz nada de errado. Foram impor a Alessandra e a casa não quis a Alessandra como candidata. Imposição hoje não vai mais. A época da Ditadura acabou. O parlamento e o parlamento. Aqui vota cada um do jeito que quer e nós estamos unidos aqui. Nós somos do bem. A história vai falar: não foi traição. Não existe traição. Você vota o que quer. Tá bom?
Rosiene Carvalho: O senhor também foi acusado de ter contratos com o governo e de anda atrás do governador Wilson Lima para tratar dos interesses dos seus negócios. Como vai se posicionar sobre isso?
Roberto Cidade: Se o governo quiser tirar todos os contratos, enfim, minha família tem empresa mais de 30 anos, consolidada….Enfim. Tem? Tem. Mas foi todo na legalidade e, se o governador quiser tirar, que tire. Se ele quiser tirar isso aí, a gente vai… bem isso é um outro momento. Estamos muito regulados, é tudo lícito. E não é meu. É da minha família e minha família é muito grande.

Rosiene Carvalho: Qual será a sua atuação parlamentar a partir de hoje: o senhor é da base, é da oposição ou será independente?
Roberto Cidade: Eu sou Assembleia Legislativa. Eu sou os deputados. E vou respeitar cada um votar em quem quiser e da forma que quiser aqui.
Rosiene Carvalho: Se chegar um pedido de impeachment para o senhor analisar, a partir do momento que o senhor tiver na presidência, qual será sua condução?
Roberto Cidade: A minha condução será da forma mais republicana possível e sempre da legalidade.