
Ou o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), deixa de ser um governador decorativo, toma as rédeas do cargo e quebra com o movimento que amplia para outros setores da opinião pública esta imagem ou vai entrar para a história como aquele que favoreceu o retorno de políticos tradicionais ao poder no Amazonas.
A prova de que a imagem saiu do nicho político e alcançou outros espaços está nos discursos das lideranças de associações e sindicatos de servidores públicos na assembleia geral do sábado, dia 3, que decidiu por deflagrar uma greve de dois dias no Estado do Amazonas, marcadas para 8 e 9 de agosto.
Se não houver contenção, será difícil de desfazer a má avaliação e as consequências da frustração da população com o novo que Wilson representa.
Os políticos tradicionais, que se revezaram por quase 40 anos no comando do Estado adotando práticas – que ainda não estão claramente rompidas neste momento na própria relação com os servidores públicos, com os políticos, com a mídia e com os grandes grupos empresariais – apostam neste resultado como boia de salvação para as futuras eleições.
Tanto as constatações quanto as expectativas deles, reprovados nas urnas nas últimas eleições, em relação a Wilson Lima circulam no meio político. Só não eram abordadas publicamente.
Essa bolha rompeu em parte na assembleia geral das associações e sindicatos. Os discursos das lideranças de associações e sindicatos de servidores públicos do Estado na assembleia geral das categorias, no sábado, dia 4, foram carregados de cobrança, indignação e ira.
Deram o tom de que, para eles, é claro que o governador Wilson Lima exerce de forma decorativa o Governo do Estado e está aquém do exercício do poder de decisão.
Eram cerca de 150 pessoas na assembleia. Um número baixo diante do total de funcionários públicos do Estado. Governo e lideranças têm uma série de versões para este dado. Todos os lados deveriam ser levados em consideração, neste ponto. Repetições de práticas antigas pelo novo e velho sufocam essa possibilidade, talvez.
Mas um detalhe não pode deixar de ser registrado. O governador Wilson Lima, eleito com votação histórica de mais de um milhão de votos e que derrubou o revezamento de políticos da linhagem de Gilberto Mestrinho há quase 40 anos no poder no Amazonas, foi chamado de “incompetente”, “fantoche”, “mentiroso”, “irresponsável” e teve o poder de comando do Estado posto em dúvida.
Foi a primeira vez que vi, publicamente, a capacidade de Wilson Lima de governar o Estado ser questionada em coro por pessoas que representam diferentes segmentos de funcionários públicos.
Essas lideranças representam uma massa, que não estava na assembleia – como já disse – mas que interage com ela e que influencia na opinião destes coletivos.
Se a ligação das lideranças com grupos políticos pode ser questionada pelos “aliados” do governador, eles deveriam também se questionar sobre o impacto que isto produz e não sumariamente fechar os olhos para o fato.
O efeito pode até não ser imediato para uma adesão à greve – como parecem apostar “aliados” do governo – mas é inevitável que se agregue à imagem negativa que vem sendo construída no entorno do governador Wilson Lima – com a colaboração por atos e omissões de sua equipe. Atinge, por óbvio, tudo que ele representa neste momento histórico do Amazonas.
Falta claramente no governo alguém preocupado e preparado para avaliar esses impactos presentes e futuros. Um assessor do “vai dar m…”.
Quem aconselha o governador a falar e fazer tanta coisa que o prejudica, atrapalha sua governabilidade e possibilidades políticas? Estes conselheiros são inábeis com inciativa ou estão a serviço de interesses de outros grupos políticos?
Quem não evitou que o governador desse declarações despreparadas após a primeira reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que claramente deu a ele o tom do desprezo que tinha pelo modelo ZFM que sustenta a economia do Estado?
Quem orientou ou deixou de alertar o governador que não era uma boa atitude viajar por uma semana ao exterior imediatamente após uma chacina de presos custodiados do Estado? Quem não impediu que o governador desse declarações que motivaram repúdio da comunidade árabe-palestina, tão presente na história do Amazonas, naquela ocasião?
Quem deu a ideia para o governador prometer adiantamento do 13º, se o governo não tinha capacidade financeira para isso e corria o risco de nem pagar o salário do mês dos servidores? E, depois, ter que passar a vergonha e carregar no ombro as consequências de voltar atrás em menos de um mês?
Quem aconselhou o governador a ser o porta-voz da defesa do secretário que teve a imagem exposta negativamente em matérias na mídia nacional?
Quem foi que deu ao governador Wilson Lima a ideia de enviar à ALE-AM uma lei, sem nenhum impacto imediato de entrada e saída de dinheiro, para congelar por dois anos os salários dos servidores públicos, depois de acordos firmados e, pior, antecipando em um ano o problema logo após um processo desgastante, e cheio de erros políticos, de uma greve de quase 40 dias na Educação?
O governador Wilson precisa questionar, abrir os olhos e tomar as rédeas. Precisa urgente de uma equipe política que queira que ele dê certo e atenda às expectativa dos eleitores que confiaram na ruptura com o passado e abriram portas a um novo tempo.
O caminho menos prejudicial a ele próprio é correr para aprender, nem que seja na marra e rápido.
Outro dia, um experiente membro do judiciário do Amazonas me disse, em off, avaliando os primeiros meses de Wilson no governo: “Parece uma criança de dois anos brincando na beira de uma piscina”.
Foto: Rosiene Carvalho. Governador Wilson Lima e ex-governador Amazonino Mendes.