Segunda fase da Sangria mira vice-governador do AM por “grande influência” na Susam, afirma MPF

A sede do Governo do Amazonas volta a ser alvo de busca e apreensão da PF (Polícia Federal), em nova fase da  operação Sangria, que investiga desvios de recursos públicos na Susam (Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas) durante a pandemia da covid-19. Nesta fase, são cumpridos cinco mandados de prisão temporária e busca e apreensão contra seis investigados.

São alvos desta fase o vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (PTB), e o homem apontado como operador do governador Wilson Lima no esquema, identificado pela ex-gerente de Compras da Susam, Alcineide Figueiredo, em depoimento como “Alencar”.

De acordo com informações divulgadas pela assessoria de comunicação da Procuradora Geral da República, Carlos Almeida virou alvo da investigação porque tinha grande influência sobre a cúpula de comando da Susam.

“Já o vice-governador, de acordo com os registros, já reunidos pelos investigadores, tinha grande influência na gestão da Secretaria de Saúde – pasta na qual atuou durante os três primeiros meses de governo. As provas apontam que a cúpula da Secretaria de Saúde se reportava frequentemente ao vice-governador para tratar de contratos da área de saúde, inclusive sobre pagamentos”, afirma trecho de informação divulgada pela PGR.

“Operador do governador”

No dia 25 de junho, o site UOL publicou com exclusividade o depoimento da gerente de compras da Susam afirmando que todo o esquema da compra de respiradores irregulares numa loja de vinho foi organizado por um empresário que atuava por indicação do governador Wilson Lima.

Na ocasião, fontes do site informaram que Alencar seria Guttemberg Alencar, empresário e militar da reserva da Polícia Militar, conhecido por ser uma pessoa que circula entre políticos do estado há vários governos. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar.

O MPF, no material divulgado nesta quinta-feira, destaca que “o governador Wilson Lima exercia domínio completo não apenas dos atos relativos à aquisição de respiradores para enfrentamento da pandemia, mas também das demais ações governamentais relacionadas à questão, no bojo das quais atos ilícitos teriam sido praticados’. 

A procuradoria também volta a afirmar que há “uma verdadeira organização criminosa que se instalou na estrutura do governo do estado do Amazonas, com o objetivo de desviar recursos públicos destinados a atender às necessidades da pandemia de covid-19”.

“Sonoar”

A investigação da CPI da Saúde e o depoimento de uma das empresárias alvo da primeira fase da Sangria, Renata Mansur, acusaram o marido da ex-secretária de comunicação Daniella Assayag como um dos beneficiados na compra de respiradores irregulares.

A CPI revelou que o governo ignorou uma proposta mais barata dos respiradores, da empresa Sonoar. Depois, se descobriu que a Sonoar comprou os respiradores de fornecedores em outros estados a um total de R$ 1 milhão e os vendeu por R$ 2,4 milhões num intervalo de seis dias para a loja de vinhos que, por sua vez, vendeu com valores com sobrepreço para o governo.

A empresária Renata Mansur disse à PF que o verdadeiro sócio da Sonoar não era ela e sim o marido da secretária Daniella Assayag. Quando a informação veio à tona, Daniella Assayag deu uma coletiva à imprensa. Nas decarações, acabou revelando que sabia do problema dos respiradores dois meses antes da operação da PF.