Sem medidas restritivas, avanço do coronavírus continuará descontrolado no AM, projeta estudo

Carregador retira parte do carregamento de 509 urnas funerárias que chegaram para abastecer as funerárias da cidade, nesta sexta -feira 08/05/2020 Foto: Edmar Barros

O Instituto Imperial College de Londres afirma em estudo divulgado nesta sexta-feira, dia 8, que sem medidas rigorosas de circulação de pessoas, o coronavírus continuará com avanço descontrolado no Amazonas, que a crise da saúde vai piorar e haverá aumento do número de mortes.

O estudo revela ainda que o Amazonas é disparado o estado com o mais alto percentual de morte por covid-19 do País. O estado tem índice de 178 mortes para cada 1 milhão de habitantes, enquanto o segundo lugar, o Estado do Ceará, registra 92 mortes para cada 1 milhão de habitantes.

A conclusão estudo britânico contraria o que vem sendo disseminado em declarações e anúncios pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), e por uma decisão da justiça do Amazonas que negou determinação de maior controle na circulação de pessoas com base em número de enterros da prefeitura.

Também contraria o conteúdo da lei aprovada por 21 dos 24 deputados estaduais da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Amazonas), esta semana, que permite a volta do funcionamento de templos religiosos no Amazonas, medida que incentiva o desrespeito ao isolamento social.

Foi com base nos estudos da Imperial College, um dos mais conceituados institutos em modelagem matemática do mundo e que vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa, que o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu a respeito do isolamento social como única medida para evitar um número catastrófico de mortes no País.

O estudo mostrou que o Amazonas, um dos estados mais isolados do País, é o que tem a mais alta taxa de contágio da população em comparação aos demais estados.

Segundo as projeções do Imperial College, 10% da população do Estado do Amazonas foi infectada pelo coronavírus. Isso significa dizer que pelo menos 400 mil pessoas já foram infectadas com a doença.

As estimativas do Imperial College se baseiam em “dados de óbitos” para estimar tendência de infectados. O instituto justifica que analisou dados de 16 estados brasileiros e que registraram 50 óbitos ou mais por covid-19.

Agravamento da epidemia

A alta taxa de infectados e de mortes em relação ao País, no entanto, não deixam o Amazonas imune ao agravamento da epidemia. O estado do Amazonas e São Paulo, com taxa de contaminação menor que a do Amazonas, são os mais citados ao longo da publicação do instituto britânico.

“Nossos resultados revelam ampla heterogeneidade nas taxas de contágio previstas entre estados, sugerindo que a epidemia está em um estágio muito mais avançado em alguns estados, em comparação com outros. Apesar dessa heterogeneidade, no entanto, em nenhum estado nenhum dos nossos resultados indica que a imunidade de rebanho está próxima de ser alcançada, ressaltando o estágio inicial da epidemia no Brasil atualmente e a perspectiva de agravamento da situação, a menos que outras medidas de controle sejam implementadas”, afirma trecho do estudo publicado pela Imperial College.

Longa fila que dobra o quarteirão gera aglomeração na Agência da Caixa Econômica da Compensa no dia 06/05/2020 (Foto: Edmar Barros).

A imunidade de rebanho ocorre quando há um maior número de pessoas com memória imunológica ao vírus, por vacinação em massa ou infecção em massa. Dessa forma, chegaria a um momento, em tese, que sem hospedeiros para a doença o vírus teria menor poder de propagação.

Em outro trecho do estudo, o instituto indica a razão pela qual os estados brasileiros analisados, incluindo o Amazonas, não chegaram ao grau de imunização de rebanho: seria necessário contágio de 70% da população e as projeções apontam que, no Amazonas, 10% da população foi infectada.

“A parcela estimada da população infectada até o momento permanece muito aquém do limiar de imunidade de rebanho de 70% necessário para evitar o rápido ressurgimento do vírus se medidas de controle estão relaxadas”.

O estudo alerta para o agravamento da crise do sistema de saúde, se medidas de restrição não forem adotadas nos estados brasileiros, incluindo o Amazonas.

“Na ausência de intervenções importantes adicionais, um crescimento substancial da epidemia é esperado em todos os 16 estados brasileiros analisados, levando ao agravamento do COVID-19 e crise de saúde pública”.

O estudo indica ainda que, diante do atual quadro de não controle rigoroso da circulação de pessoas nos estados avaliados, a tendência é que o número de casos e de mortes aumentem em todo território nacional.

“Entretanto, nossos resultados também mostram que até agora as mudanças na mobilidade não foram rigorosas o suficiente para que reduza o número de reprodução abaixo de 1. Portanto, prevemos o crescimento contínuo da epidemia em todo o Brasil e aumentos no número associado de casos e mortes, a menos que outras ações sejam adotadas”.

A reprodução abaixo de 1 é um parâmetro do estudo, cujo resultado mais baixo, depende de medidas para “romper as cadeias de transmissão”, controlar a propagação do vírus e “impedir o crescimento exponencial” da doença. Este controle, em todo Brasil, é mal avaliado pelo estudo.

“Nossos resultados sugerem que, apesar das reduções, essas medidas foram apenas parcialmente bem-sucedidas na redução da transmissão – em todos os estados considerados aqui, o valor de Rt permanece acima de 1, indicando que a transmissão permanece descontrolada e que, na ausência de medidas mais rígidas que levem a novas reduções de mobilidade, o crescimento da epidemia continuará”.

O Imperial College diz que o resultado sobre o controle da circulação de pessoas no Brasil para evitar o avanço da doença contrasta com o que ocorreu nos bloqueios adotados na Europa.

“Tais reduções foram associadas a reduções substanciais nos padrões de mobilidade – nos países como a Itália, onde foi exigido um bloqueio rigoroso, a mobilidade diminuiu muito mais do que observado até o momento no Brasil”.

O estudo traça comparação com a redução de mobilidade na Lombardia, uma das regiões mais afetadas e mais ricas da Itália, com o Amazonas e São Paulo.

“Por exemplo, padrões de mobilidade em torno de supermercado / farmácia em A Lombardia, uma das regiões mais severamente afetadas da Itália, caiu quase 75% quando as medidas foram introduzidas (produzindo um Rt estimado de 0,58). Por outro lado, no Amazonas e São Paulo até o momento, a redução máxima observada foi de apenas 18% e 21%, respectivamente, produzindo estimativas de Rt de 1,58 e 1,46, respectivamente”, afirma outro trecho do estudo.

Amazonas é disparado o estado com o mais alto percentual de morte por covid-19 do País

De acordo com os gráficos da Imperial College, divulgados no estudo, o percentual de mortes no Amazonas por covid-19 é disparado o mais alto do País.

O estudo indica que o Amazonas registra 178 mortes para cada 1 milhão de habitantes. O valor é quase o dobro do segundo lugar, que é o Estado do Ceará, com 92 mortes para cada 1 milhão de habitantes.

O Estado de São Paulo que é o com maior registro absoluto de infectados por covid-19 tem percentual de mortos pela doença três vezes menor que o Amazonas. Em São Paulo são 65 mortes para cada 1 milhão de habitantes.

Veja o gráfico:

Acesse a íntegra do estudo neste link.

Dados oficiais

De acordo com os dados divulgados pelo Governo do Amazonas, nesta sexta-feira, dia 8, o estado chegou a 10.727 casos e um total de 874 mortes. Foram 628 novos casos e 44 mortes, nas últimas 24 horas.

O governador do Amazonas há mais de três semanas já admitiu o descontrole dos dados em função de alta subnotificação, exposta pelo pico de enterros nos cemitérios de Manaus, que subiram de uma média de 30 para 100.

São os dados que o governo não tem controle que o estão sendo usados como parâmetro para embasar a decisão de reabertura do comércio em Manaus, planejada para o dia 14 de maio. Em seis dias.