
O Instituto Imperial College de Londres afirma em estudo divulgado nesta sexta-feira, dia 8, que sem medidas rigorosas de circulação de pessoas, o coronavírus continuará com avanço descontrolado no Amazonas, que a crise da saúde vai piorar e haverá aumento do número de mortes.
O estudo revela ainda que o Amazonas é disparado o estado com o mais alto percentual de morte por covid-19 do País. O estado tem índice de 178 mortes para cada 1 milhão de habitantes, enquanto o segundo lugar, o Estado do Ceará, registra 92 mortes para cada 1 milhão de habitantes.
A conclusão estudo britânico contraria o que vem sendo disseminado em declarações e anúncios pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), e por uma decisão da justiça do Amazonas que negou determinação de maior controle na circulação de pessoas com base em número de enterros da prefeitura.
Também contraria o conteúdo da lei aprovada por 21 dos 24 deputados estaduais da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Amazonas), esta semana, que permite a volta do funcionamento de templos religiosos no Amazonas, medida que incentiva o desrespeito ao isolamento social.
Foi com base nos estudos da Imperial College, um dos mais conceituados institutos em modelagem matemática do mundo e que vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa, que o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu a respeito do isolamento social como única medida para evitar um número catastrófico de mortes no País.
O estudo mostrou que o Amazonas, um dos estados mais isolados do País, é o que tem a mais alta taxa de contágio da população em comparação aos demais estados.
Segundo as projeções do Imperial College, 10% da população do Estado do Amazonas foi infectada pelo coronavírus. Isso significa dizer que pelo menos 400 mil pessoas já foram infectadas com a doença.
As estimativas do Imperial College se baseiam em “dados de óbitos” para estimar tendência de infectados. O instituto justifica que analisou dados de 16 estados brasileiros e que registraram 50 óbitos ou mais por covid-19.
Agravamento da epidemia
A alta taxa de infectados e de mortes em relação ao País, no entanto, não deixam o Amazonas imune ao agravamento da epidemia. O estado do Amazonas e São Paulo, com taxa de contaminação menor que a do Amazonas, são os mais citados ao longo da publicação do instituto britânico.
“Nossos resultados revelam ampla heterogeneidade nas taxas de contágio previstas entre estados, sugerindo que a epidemia está em um estágio muito mais avançado em alguns estados, em comparação com outros. Apesar dessa heterogeneidade, no entanto, em nenhum estado nenhum dos nossos resultados indica que a imunidade de rebanho está próxima de ser alcançada, ressaltando o estágio inicial da epidemia no Brasil atualmente e a perspectiva de agravamento da situação, a menos que outras medidas de controle sejam implementadas”, afirma trecho do estudo publicado pela Imperial College.

A imunidade de rebanho ocorre quando há um maior número de pessoas com memória imunológica ao vírus, por vacinação em massa ou infecção em massa. Dessa forma, chegaria a um momento, em tese, que sem hospedeiros para a doença o vírus teria menor poder de propagação.
Em outro trecho do estudo, o instituto indica a razão pela qual os estados brasileiros analisados, incluindo o Amazonas, não chegaram ao grau de imunização de rebanho: seria necessário contágio de 70% da população e as projeções apontam que, no Amazonas, 10% da população foi infectada.
“A parcela estimada da população infectada até o momento permanece muito aquém do limiar de imunidade de rebanho de 70% necessário para evitar o rápido ressurgimento do vírus se medidas de controle estão relaxadas”.
O estudo alerta para o agravamento da crise do sistema de saúde, se medidas de restrição não forem adotadas nos estados brasileiros, incluindo o Amazonas.
“Na ausência de intervenções importantes adicionais, um crescimento substancial da epidemia é esperado em todos os 16 estados brasileiros analisados, levando ao agravamento do COVID-19 e crise de saúde pública”.
O estudo indica ainda que, diante do atual quadro de não controle rigoroso da circulação de pessoas nos estados avaliados, a tendência é que o número de casos e de mortes aumentem em todo território nacional.
“Entretanto, nossos resultados também mostram que até agora as mudanças na mobilidade não foram rigorosas o suficiente para que reduza o número de reprodução abaixo de 1. Portanto, prevemos o crescimento contínuo da epidemia em todo o Brasil e aumentos no número associado de casos e mortes, a menos que outras ações sejam adotadas”.
A reprodução abaixo de 1 é um parâmetro do estudo, cujo resultado mais baixo, depende de medidas para “romper as cadeias de transmissão”, controlar a propagação do vírus e “impedir o crescimento exponencial” da doença. Este controle, em todo Brasil, é mal avaliado pelo estudo.
“Nossos resultados sugerem que, apesar das reduções, essas medidas foram apenas parcialmente bem-sucedidas na redução da transmissão – em todos os estados considerados aqui, o valor de Rt permanece acima de 1, indicando que a transmissão permanece descontrolada e que, na ausência de medidas mais rígidas que levem a novas reduções de mobilidade, o crescimento da epidemia continuará”.
O Imperial College diz que o resultado sobre o controle da circulação de pessoas no Brasil para evitar o avanço da doença contrasta com o que ocorreu nos bloqueios adotados na Europa.
“Tais reduções foram associadas a reduções substanciais nos padrões de mobilidade – nos países como a Itália, onde foi exigido um bloqueio rigoroso, a mobilidade diminuiu muito mais do que observado até o momento no Brasil”.
O estudo traça comparação com a redução de mobilidade na Lombardia, uma das regiões mais afetadas e mais ricas da Itália, com o Amazonas e São Paulo.
“Por exemplo, padrões de mobilidade em torno de supermercado / farmácia em A Lombardia, uma das regiões mais severamente afetadas da Itália, caiu quase 75% quando as medidas foram introduzidas (produzindo um Rt estimado de 0,58). Por outro lado, no Amazonas e São Paulo até o momento, a redução máxima observada foi de apenas 18% e 21%, respectivamente, produzindo estimativas de Rt de 1,58 e 1,46, respectivamente”, afirma outro trecho do estudo.
Amazonas é disparado o estado com o mais alto percentual de morte por covid-19 do País
De acordo com os gráficos da Imperial College, divulgados no estudo, o percentual de mortes no Amazonas por covid-19 é disparado o mais alto do País.
O estudo indica que o Amazonas registra 178 mortes para cada 1 milhão de habitantes. O valor é quase o dobro do segundo lugar, que é o Estado do Ceará, com 92 mortes para cada 1 milhão de habitantes.
O Estado de São Paulo que é o com maior registro absoluto de infectados por covid-19 tem percentual de mortos pela doença três vezes menor que o Amazonas. Em São Paulo são 65 mortes para cada 1 milhão de habitantes.
Veja o gráfico:

Acesse a íntegra do estudo neste link.
Dados oficiais
De acordo com os dados divulgados pelo Governo do Amazonas, nesta sexta-feira, dia 8, o estado chegou a 10.727 casos e um total de 874 mortes. Foram 628 novos casos e 44 mortes, nas últimas 24 horas.
O governador do Amazonas há mais de três semanas já admitiu o descontrole dos dados em função de alta subnotificação, exposta pelo pico de enterros nos cemitérios de Manaus, que subiram de uma média de 30 para 100.
São os dados que o governo não tem controle que o estão sendo usados como parâmetro para embasar a decisão de reabertura do comércio em Manaus, planejada para o dia 14 de maio. Em seis dias.