
A ex-senadora e pré-candidata à Prefeitura de Manaus Vanessa Grazziotin (PCdoB) declarou, em entrevista ao blog, que os partidos que fazem oposição aos governos federal, estadual e municipal em Manaus precisam ter “a grandeza e maturidade” de formar uma frente viável para vencer a eleição. Caso contrário, na avaliação da ex-senadora, ninguém chega nem ao segundo turno.
“Tem que encorpar já no primeiro turno. A situação é tão delicada, que corre o País, que se a gente não fizer isso, corremos o risco de nem ir para o segundo turno. Essa é a realidade que vejo em Manaus. (…) Nós que somos oposição devemos ter a grandeza e maturidade de chegar a esta conclusão.”
Sem citar nomes, Vanessa disse que há pré-candidatos com ideias equivocadas a respeito da força deles em meio à conjuntura das Eleições 2020.
“Aqui tem candidato de oposição que acredita que está eleito. Lá em Santa Catarina, eles têm a convicção que, ou se junta todo mundo ou grande parte no primeiro tuno, ou nem se chega ao segundo turno”, declarou.
Vanessa também falou que o PCdoB disponibilizou o nome dela como gesto de abertura de diálogo sobre uma frente ampla de partidos de oposição, mas que a tendência é que ela não se candidate. Vanessa disse que é preciso parar e oxigenar por um tempo.
Leia entrevista, na íntegra:
Rosiene Carvalho (RC): É possível uma união da esquerda e da centro-esquerda em Manaus nas Eleições 2020?
Vanessa Grazziotin: Acho que as decisões estão acompanhando o curso do Estado do Amazonas. Vão ocorrer lá perto das convenções. Não tenho dúvidas quanto a isso. Agora, neste mês, já vai ter importantes indicativos com a janela para troca de partidos políticos. A tentativa de unir as esquerdas, melhor dizendo, as oposições, ela não apenas é vista como de muita importância por nós do PCdoB, como temos sido nós os patrocinadores e grandes protagonistas desta tentativa aqui. De tentar unificar. Se a gente entrar no processo eleitoral visando vencer, temos que estar juntos. Temos que mostrar, tem que encorpar já no primeiro turno. A situação é tão delicada, que corre o País, que se a gente não fizer isso, corremos o risco de nem ir para o segundo turno. Essa é a realidade que vejo em Manaus.
RC : É difícil esta união?
Vanessa Grazziotin: Estamos tentando, mas parece difícil. Porque alguns partidos já decretaram que terão candidatura própria sem que o debate passe por este foco.
RC: PCdoB é um deles.
Vanessa Grazziotin: Não, não, não, não. De jeito nenhum. PCdoB não. Eu tenho resistido muito em ser candidata nesta eleição. Mas o partido me sugeriu que eu acatasse para ser o meu nome, caso fosse um nome que agregasse à frente. Tudo bem, se é assim, eu aceito. Não sou de fugir da briga. Tenha ela boas perspectivas ou não. Neste caso, eu aceitei. O partido disponibilizou meu nome apenas para isso: caso seja um nome a agregar toda a frente. Mas, na mesma decisão, resolveu que, se não for o nosso nome do PCdoB pode ser outro nome que agregue. Para mim, não tem problema nenhum. Nós apoiaremos.
RC: Qual a condição do PCdoB para aliança nesta eleição, em Manaus?
Vanessa Grazziotin: Não temos condição. O que defendemos é a ampla aliança do PCdoB, PSB, PDT, PT, PSOL, Rede, enfim. Esses partidos todos. Imagine, juntos já temos dificuldades. Vamos enfrentar três máquinas: Bolsonaro, que é uma máquina poderosíssima. Porque quem acha que tirou um governo para colocar um governo ético está vendo que a gente colocou a raposa para cuidar do galinheiro mesmo. Então, é a máquina do Governo Federal que se mete, sim, vai se meter. Não conseguiram criar o partido deles, o Aliança das balas, dos projéteis. Mas eles vão se espalhar por vários partidos e vão ter o candidato deles. Aqui em Manaus não vai ser diferente. Tem a máquina do Estado, que também vai se meter e a máquina da própria prefeitura. Nós que somos oposição devemos ter a grandeza e maturidade de chegar a esta conclusão. Agora, se não for possível esta aliança, aí, sim, teremos candidato próprio.
“Se o Estado quisesse poderia entrar e regularizar a situação daquelas pessoas que vivem lá (…) Acho um crime contra à população manauara”
RC: Qual sua opinião sobre a desocupação do Monte Horebe? Não sei se está acompanhando as informações…
Vanessa Grazziotin: Acho que não adianta o Estado dizer que aquilo é uma decisão judicial porque ninguém nasceu ontem. A gente sabe que há decisões judiciais que podem ser pactuadas, ou seja, se o Estado quisesse poderia entrar e regularizar a situação daquelas pessoas que vivem lá. Mas não foi isso que fez. Tem muita gente que diz que foi muito incitada pelo próprio Estado a violência que aconteceu. Aí estamos dando um aluguel social de R$ 600. Até quando? E a partir de quando? É um crime o que estão fazendo lá para uma cidade que tem um déficit habitacional significativo de moradias, para um País que subiu novamente no índice de desemprego. Famílias e mais famílias desempregadas. Então, lamento. Acho um crime contra à população manauara.
RC: E o silêncio da Câmara e da Prefeitura? Qual sua opinião?
Vanessa Grazziotin: O Estado acusado de conivente com esta desocupação e a prefeitura parece que não é com ela. Não se manifesta. Esta hora, sim, deveria ter unidade entre Estado e prefeitura para resolver problemas. Quando tem problemas de enchente, de calamidade, as esferas de poder se unem.
RC: Esta é uma situação de calamidade?
Vanessa Grazziotin: Se fizer um levantamento, vai se ver que as chefes de família ali são mulheres. Tenho certeza. Não tenho dúvida nenhuma. Lamentável que de um lado haja uma omissão e de outro uma conivência com um crime contra as pessoas.
“A tendência é que eu não seja candidata a nada. O partido solicitou muito de mim, candidatura a prefeita e depois à Câmara de Vereadores. Mas eu entendo que está na hora de eu dar um tempo. É preciso, na vida, em qualquer lugar que você atue ter um tempo para oxigenar”
RC: Qual sua programação para este ano em Manaus, nas articulações políticas. A senhora tem uma função na Câmara dos Deputados no gabinete da deputada Jandira Feghali…
Vanessa Grazziotin: Sim. E mais que isso: tenho uma função dentro do partido. Não passo um final de semana sem viajar. Agora mesmo voltei do Mato Grosso. Nesse processo pré-eleitoral, estou sendo bastante exigida. A tendência é que eu não seja candidata a nada. O partido solicitou muito de mim, candidatura a prefeita e depois à Câmara de Vereadores. Mas eu entendo que está na hora de eu dar um tempo. É preciso, na vida, em qualquer lugar que você atue, ter um tempo para oxigenar. Isso não significa dizer que, se eu não for candidata nesta eleição, eu vou ficar longe. Ao contrário, acho que vou trabalhar mais do que se fosse candidata. Vou para rua, vou fazer comício relâmpago com nossos candidatos, distribuir panfleto. Tem o interior também. Este é um momento que a sociedade não compreende, mas vai compreender, é o momento que mais se precisa da força da militância para a gente reagir ao que está acontecendo.
RC: Quais as perspectivas do PCdoB para as capitais que a senhora está participando das articulações?
Vanessa Grazziotin: Faço parte da equipe que acompanha o geral e está boa. A gente tem em torno de 17 candidatos próprios em capitais. Claro, que nem todos com grande nível de competitividade como é a Manuela D’ávila, que está em primeiro lugar lá. A ideia é essa. Estamos tentando que os partidos se unifiquem para poder concorrer juntos. Eu estive recentemente em Santa Catarina. Lá a realidade é bem singular porque lá eles têm consciência, diferente daqui (Manaus), porque aqui tem candidato de oposição que acredita que está eleito. Lá em Santa Catarina, eles têm a convicção que, ou se junta todo mundo ou grande parte no primeiro turno, ou nem se chega ao segundo turno. Foi o que aconteceu nas duas últimas eleições. As divisões das oposições nos tirou do segundo turno. O fato é que em todo lugar teremos chapa própria de vereadores e pretendemos eleger dois em Manaus.
RC: Quais nomes têm maior chance?
Vanessa Grazziotin: Tem vários nomes. Não quero falar para não cometer injustiça com nossa chapa.