
* José Alcimar de Oliveira
Sócrates dizia que a calúnia corre mais rapidamente do que a morte. Jesus de Nazaré, diante de seus inimigos, afirmava temer mais os que matam o espírito do que aqueles que matam o corpo.
Karl Marx assinalava que uma teoria – teoria como objetivação dialética da realidade – pode se converter em força material quando se apropria das massas.
Hannah Arendt assegurava que nenhum valor conquistado pela humanidade se perde. Sempre haverá ressurreição, que ela preferia chamar de “invencibilidade da substância humana”. Enquanto houver humanidade e história haverá desenvolvimento axiológico.
Bonhoeffer, pastor protestante que participou de um atentado fracassado contra Hitler e foi executado em 09 de abril de 1945, tendo passado os dois últimos anos de sua vida na prisão das Forças Armadas em Berlim, registrou em seus escritos do cárcere que o bom combatente deve cultivar uma força que jamais cede o futuro ao inimigo, mas o reclama para si.
Ressurreição ou invencibilidade da substância humana, o futuro pertence a quem não se demite dos desafios do presente histórico.
Em suas memórias, intitulada Solo de clarineta, Érico Verissimo registra: “Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos.
Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto”.
Sob o signo do Jesus Histórico para quem, mesmo sem crer, é solidário na luta comum pela justiça; sob o signo do Cristo da Fé para quem crer e, enfim, para todos, ateus, crentes e agnósticos, artífices da justiça e da paz, desejo uma Páscoa de luta, de bons e alegres afetos, de resistência, de firmeza, porque mesmo que haja vida após a morte, importa aos que lutam manter a generosidade e cuidar da vida, sobretudo daqueles a quem já é negada a vida antes da morte.
*José Alcimar de Oliveira, teólogo sem cátedra, no Domingo da Ressurreição, em 12 de abril do ano coronavirano de 2020.