Silas Câmara critica Bolsonaro e diz que Mandetta é “o grande timoneiro”

O coordenador da bancada evangélica no Congresso Nacional, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM), criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre isolamento social e de confronto com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a quem chamou de “grande timoneiro” do Brasil nas ações de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19). 

“De fato, o ministro Mandetta tem sido, sem duvida nenhuma, na minha avaliação, o grande timoneiro, o grande comandante e o grande piloto desse momento de desafio para o Brasil. Tem a confiança do Congresso Nacional”, disse o deputado amazonense.

Em entrevista ao blog, Silas Câmara afirmou que a postura do presidente cria dificuldades para o País neste momento de enfrentamento de uma pandemia.

“Eu acho que precisamos concentrar forças naquilo que nos une. Aquilo que não une a população brasileira a gente trazer a público para este momento, principalmente falando de quem comanda o País, você cria dificuldades. Eu sinto falta, sinceramente, de uma fotografia antes do isolamento social, do presidente da República com todos os governadores do Brasil”, declarou.

Bancada evangélica

A bancada evangélica é considera a maior em número de parlamentares – embora haja notícias de divergências internas – e uma das mais fiéis ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, em um ano e três meses de mandato. Até “culto de Gratidão a Deus e à vida do presidente” já foi feito na Igreja Assembleia de Deus, em Manaus, congregação de Silas Câmara, em novembro do ano passado. 

Reuniões na casa de Silas, em Brasília, com a presença de Bolsonaro e autoridades do legislativo e judiciário também chamaram atenção da mídia ao longo do ano passado.

Nesta sexta-feira, dia 3, o jornal Folha de São Paulo divulgou pesquisa Datafolha mostrando que a aprovação do ministro Mandetta na condução da crise do coronavírus é o dobro da atribuída ao presidente Jair Bolsonaro. 

O ministro tem recebido apoio de outros ministros do Governo Federal, como Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) diante de declarações de reprovação do presidente e indicações de queda por adotar medidas contrárias ao entendimento de Bolsonaro.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e o presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM), também manifestaram apoio a Mandetta que nesta sexta, ao comentar de eventual saída do ministério, disse que médico não abandona paciente.

“Fico com a posição do ministro”

O presidente da bancada evangélica disse lamentar a postura do presidente:

“Embora eu seja um parlamentar, presidente de uma frente que respeite o Governo Federal e o presidente da República, eu, neste momento, estou com todas as autoridades evangélicas do Brasil e também do parlamento e dos poderes: o melhor neste momento é o isolamento social. (…) Portanto, eu lamento esta posição. Até entendo que o presidente queira preservar a economia, mas neste momento fico com a posição do ministro da Saúde, dos governadores e dos prefeitos de conclamar a população para o isolamento social prevendo aí que vamos salvar muitas vidas como temos salvado até agora”.

Silas Câmara disse lamentar que diante de um momento instável a população tenha que assistir o desencontro entre o presidente e o ministro da saúde.

“Estou muito preocupado com isso. Acho que não é bom para ninguém. Esse embate contraditório do Executivo, entre o mandatário da nação e um subordinado, isso vai ter uma consequência. (…) Isso é uma questão muito delicada que a população está vendo isso. Nesse momento, é muito importante que a população possa confiar no governo, no comando da nação, abaixo de Deus. Confiar significa observar que eles estão falando a mesma linguagem”, disse.

O parlamentar citou, em comparação ao que ocorre hoje no Governo Federal, a passagem bíblica do livro de Gênesis conhecida como “Torre de Babel”. A passagem relata que quando os homens iniciarem a comunicação em línguas diferentes, o projeto de construção da torre não foi concluído.

Silas disse que rejeita a ideia de que, como na passagem bíblica, ao final, não se alcançará o objetivo de combate ao Covid-19. Na entrevista, o deputado evitou usar a palavra “ciência” que tem sido recorrente nos discursos em apoio à medida de isolamento social como combate a um avanço rápido de infecção pelo coronavírus. No lugar, usou “medicina” e “boa técnica”.

“O Brasil é maior que o governo. O povo brasileiro é mais guerreiro e mais valente e a sua fé em Deus e sua resignação em fazer o que a boa técnica indica, que é isso: isolamento social, na minha avaliação, que tem evitado milhares de mortes do Brasil”.

Ajuda às igrejas

O líder da bancada evangélica também defendeu que as igrejas evangélicas recebam socorro financeiro do Governo Federal compatível a qualquer outro CNPJ por serem responsáveis, na opinião dele, por atividades essenciais à sociedade e pelas dificuldades financeiras que vão enfrentar com a pandemia e a diminuição dos dízimos. 

Questionado sobre o impacto financeiro nas igrejas com a pandemia, Silas respondeu:

“Não tenha dúvida. Você imagina que, inclusive, ontem, conversando com o ministro Paulo Guedes e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos, e presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães e lideranças da nossa bancada evangélica, que eu sinto necessidade de reconhecimento de atividade essencial dos templos religiosos nesse tempo, que o Governo Federal anuncie algum socorro para que as igrejas possam atravessar este momento”

A coordenador da bancada evangélica explicou:

“Afinal de contas, as igrejas também têm funcionários, têm necessidade de fornecer a seus pastores, missionários, líderes o salário devido. A bíblia diz que, quem vive do evangelho, deve comer do evangelho. Nesse momento, nós sentimos um grande abalo também na economia das igrejas. Há maior necessidade de cuidas das pessoas, também precisamos cuidar desses funcionários. Temos faculdades, meios de comunicação, servidores das igrejas, que de diversas formas funcionam com funcionários e colaboradores. Estamos cuidando paras que a gente possa equacionar todas essas questões”, declarou.

Arthur e Wilson Lima

Silas Câmara elogiou as medidas que estão sendo tomadas em Manaus e no Amazonas pelo prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), e pelo governador Wilson Lima (PSC). Disse que a conversa entre os dois mostra uma ação política que falta neste momento no Governo Federal.

“É um gesto de ordem pública muito importante, o que nos falta talvez em âmbito nacional, o Amazonas não está passando por isso. Todos falam a mesma linguagem”, disse.

Silas Câmara parabenizou a coragem de Wilson Lima, Arthur Neto e dos 61 prefeitos do interior do Amazonas de paralisar atividades para preservar vidas e disse que a medida foi compreendida por setores como empresariais.

“A sociedade organizada entendeu a mensagem. Até a própria economia do nosso Estado, apesar da distorção, desculpa a palavra, de um maluco ou outro que provoca uma carreata para abrir o comércio. Eu queria ver esse pessoas caminhando um agarrado com o outro, sabe? Ao invés de estarem dentro de carro, provocando a discórdia, a dissensão e o desentendimento”, disse.

O superintende da Suframa, Coronel Alfredo Menezes, participou da carreata realizada em Manaus no dia 27 de março e mostrou o movimento por chamada de vídeo para o presidente Jair Bolsonaro que sorridente disse: “É isso aí. Vamos trabalhar”.

Assista a entrevista nos links: