Sociólogo reprova políticos que desqualificam ciência para “defender” a região

O doutor em Ciências Sociais e professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Marcelo Seráfico, declarou os políticos deveriam considerar as análises científicas para fundamentar seus posicionamentos sobre a Amazônia e sobre a economia do Estado.

Marcelo Seráfico é doutor em Sociologia. Sua tese teve como tema “O empresário local e a Zona Franca de Manaus: (re)produção social e globalização econômica” foi apresentada na UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Seráfico entrou em contato com o blog após as críticas que o secretário da Representação do Amazonas em São Paulo, Pauderney Avelino (DEM), o senador Plínio Valério (PSDB) e o deputado estadual Wilker Barreto (Podemos) criticaram as declarações do ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, sobre a ZFM.

Ricardo Galvão declarou à Coluna de Política da Rádio Band News Difusora que é uma falácia dizer que a ZFM preserva a floresta em pé. “É uma falácia dizer que a ZFM ajudou a manter a floresta em pé. Os grandes desmatadores ilegais na Amazônia são as grandes empresas. Não é o coitadinho que vai desmatar”.

Marcelo Seráfico disse que os políticos do Amazonas rebaixaram a ciência ao nível de ditas narrativas e que isso é um erro.

“Eu diria que os políticos devem considerar as análises científicas para fundamentar suas posições. Desqualificar o que afirma um pesquisador que acompanha o processo de desmatamento há anos sem confrontar as bases empíricas e as análises substantivas que faz, é querer rebaixar a ciência ao nível das ditas narrativas”, declarou.

O cientista social comparou a ideia de manutenção da cobertura vegetal como subproduto da ZFM à lenda do Curupira que qualificou como Curupira “Pós-Moderno”.

“Lembro que Juarez Baldoíno realizou pesquisa de mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia mostrando as inconsistências científicas do trabalho produzido pelos pesquisadores vinculados à tese do Curupira Pós-Moderno, como qualifico essa ideia de que a manutenção da cobertura vegetal do Amazonas é subproduto da ZFM”, declarou.

Seráfico afirmou há dissertação que faz análise crítica da “pesquisa” que é usada para sustentar a tese de que a ZFM é responsável pela proteção da cobertura vegetal.

“A Thaís Brianezi também defendeu uma tese na USP mostrando o que eu chamaria de oportunismo ecológico, a incorporação do discurso ecológico na defesa dos incentivos fiscais”, declarou.

Seráfico disse que é preciso defender o modelo econômico, mas usar argumentos falsos é burla à boa fé.

“Entendo até que se deva defender como forma de assegurar por certo período de tempo – como era o projeto original da ZFM – condições econômicas para se planejar… coisa que não foi feita em meio século. Mas usar argumentos falsos é desonesto e burla à boa fé das pessoas”, declarou.

Argumentos Científicos x Argumentos Políticos.

Para o professor e mestre em Ciências Sociais da Uam, Luiz Antonio Nascimento de Souza, no embate entre os argumentos políticos e científicos sobre o desenvolvimento da região e a economia do Amazonas, há razão nos dois lados,

“Os dois lados estão corretos. De fato não há relação de causa-efeito entre modelo Zona Franca e manutenção da floresta em pé. Se houvesse essa relação não teríamos tido desmatamentos durante os governos Lula e Dilma, governos que atuaram fortemente na proteção do modelo ZFM”, declarou o sociólogo.

Luiz Antônio acrescentou que um hipotético fim da ZFM poderia agravar o desmatamento. “De outro lado, com um hipotético fim da ZFM teremos em pouco tempo enorme deslocamento de forças econômicas na direção do estoque florestal com vistas a sua conversão em capital”, afirmou.

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