“Tenho muito apoiamento”, afirma Marcelo sobre sucessão de Rodrigo Maia

O deputado federal Marcelo Ramos (PL) declarou que é cedo para falar sobre as chances de se tornar o próximo presidente da Câmara dos Deputados, mas afirmou ter muitos apoios na casa legislativa.

“Tenho muito apoiamento dentro da Câmara. Não só no meu partido”,
declarou.

A declaração foi feita em entrevista às jornalistas Thaís Gama e Rosiene Carvalho, no programa Exclusiva da Rádio BandNews Difusora, nesta
segunda-feira, dia 27.

Na entrevista, Marcelo Ramos também fez uma avaliação das atuações do seu primeiro ano de mandato em questões polêmicas como a reforma da previdência e a prisão em segunda instância.

Negou que seja candidato à Prefeitura de Manaus, mas disse que o PL deve lançar um nome na disputa, ao mesmo tempo em que lamentou que os atuais pré-candidatos não estejam discutindo a cidade e que todos até agora são movidos por vaidades.

“O processo sucessório é muito raso, muito desqualificado”, disse.

O parlamentar também falou sobre ZFM, IPI e reforma tributária. Em relação ao presidente Jair Bolsonaro, foi afável e disse reconhecer atitudes positivas dele direcionadas ao Estado do Amazonas. “Temos que fazer justiça ao presidente Bolsonaro”, avaliou.

O deputado falou, ainda, sobre sua relação com superintendente da Suframa, Coronel Alfredo Menezes, com quem tem trocado farpas pela internet. Ramos disse que a “conversa daqui para frente será na polícia e não na política“.

 

Relação com governo

O deputado federal afirmou, na entrevista, que sua mudança de atitude na relação com o Governo Wilson Lima (PSC) foi uma tática articulada na bancada federal do Amazonas para que a mesma fosse agente de estabilidade com o objetivo de que o governo “pudesse dar certo e encontrasse seu rumo”.

“A minha proximidade com o governo não tem nenhuma relação eleitoral. A minha proximidade foi uma tática discutida pela bancada que, diante das dificuldades – e é natural a um governador que nunca tinha tido uma experiência e o vice também. Então, diante dessas dificuldades, nós precisaríamos ser agentes de estabilidade para que o governo pudesse dar certo e encontrar seu rumo. Isso é fundamental. Porque quando as coisas dão errado, quem sofre não é o governador, não é o deputado federal. Quem sofre é a população”.

Em agosto do ano passado, Marcelo Ramos, no plenário da Câmara dos Deputados, ao prestar solidariedade aos servidores públicos em função de congelamento de salários, chamou o governador Wilson Lima de “sem 
autoridade, deslumbrado e fraco politicamente“.

Ramos avalia que, agora, o momento é de contribuir mantendo a independência.

 

Leia a seguir os principais trechos da entrevista ou assista neste link.

 

Exclusiva: A que o senhor atribuiu ter chegado, em apenas um ano de mandato, à condição de nome cotado para assumir a presidência
da Câmara dos Deputados, um dos cargos mais importantes do País?

Marcelo Ramos: Eu disputei sete eleições em 10  anos. Entre 2008 e 2018, eu disputei todas as eleições. Desde que eu disputei a Eleição 2014, eu fiz uma opção de só disputar eleição majoritária. 2017 foi um ponto fora da curva. Acabei virando candidato a vice. Foi um momento de muito aprendizado para mim. Hoje, é fácil olhar para traz e ver que cometi um erro. Mas ele me fez amadurecer e enfrentar dificuldades e, em 2018, disputar uma eleição que nunca imaginei. Nunca quis ser deputado federal.

Exclusiva: O senhor é apontado na mídia nacional e por colegas de parlamento, na Câmara dos Deputados, como alguém de perfil moderado. Não é o Marcelo Ramos que conhecemos de outros mandatos. O senhor virou moderado realmente ou a situação do País é tão polarizada aos extremos que torna Marcelo Ramos um moderado?

Marcelo Ramos: Eu sempre fui muito conflituoso. Fui forjado no PCdoB. Então, é natural que eu carregasse um pouco essa característica conflituosa. As minhas derrotas de 2016, quando tive grandes chances de vitória, e em 2018, que foi muito desgastante para mim, me ensinaram muito. Me
ensinaram a ver qualidades nas diferenças. Me ensinou a respeitar quem pensa diferente de mim. As pessoas olhavam para a minha condição de presidente da comissão da reforma da previdência e se surpreendiam com o Marcelo conciliador. De fato, hoje sou mais moderado. Para me tirar do sério, tem que se esforçar muito. Alguns até conseguem, algumas vezes. Mas tem que se esforçar muito, porque eu procuro sempre o caminho do diálogo e do consenso. O Brasil precisa disso.

Exclusiva: A bancada do Amazonas tem oito deputados. Na Câmara, são 513 deputados. Como um deputado consegue se destacar e ocupar
espaços políticos e na mídia ?

Marcelo Ramos: Talvez algum diferencial tenha sido o fato de eu fazer o dever de casa. Nos dois anos que antecedeu o mandato, cursei um MBA de relações governamentais, em São Paulo. Aquilo me deu uma visão geral do que eu precisava fazer para ter algum protagonismo na Câmara. Antes de assumir, fui para Brasília. Consegui com meu partido ser titular da CCJ e vice-líder. Descobri que só os líderes falam a hora que querem. Os que não são líderes falam só por um minuto ou têm que esperar três meses para falar no grande expediente. Criei relação com o presidente Rodrigo Maia. Identifiquei quem eram os líderes. Porque onde tem 513, não são todos que decidem. Estudei muito o regimento da casa. Criei uma relação muito próxima. Mas, óbvio, depois que presidi a comissão da reforma da previdência, aquilo me projetou para ter algum protagonismo na Câmara dos Deputados, o que não é fácil.

 

“Ninguém faz reforma da previdência para fazer bondade”.

 

Exclusiva: O que o senhor tem a dizer aos trabalhadores do Estado do
Amazonas a respeito das mudanças na reforma da previdência, que muitos sentem como uma agressão aos seus direitos?

Marcelo Ramos: Ninguém faz reforma da previdência para fazer bondade. A reforma da previdência é para tentar enxugar os custos e tentar trazer a previdência para dentro do que ela arrecada. Se você pensar só na nossa geração, realmente, é uma medida dolorida que apertou o cinto da nossa
geração. Agora, necessária para que as futuras gerações também tenham direito à aposentadoria. Poderíamos não fazer nada e esperar que daqui a 20 anos não teria dinheiro para pagar ninguém. Tomamos uma medida impopular, dura, mas necessária para quem quer o desenvolvimento do País e que as próximas gerações também tenham direito à aposentadoria.

 

“Hoje tenho muito apoiamento dentro da Câmara”

 

Exclusiva: O senhor acha que tem chance de se tornar presidente da Câmara dos Deputados?

Marcelo Ramos: Acho muito cedo. A eleição só será em fevereiro de 2021. Não quero especular e criar falsas expectativas. O que eu posso dizer é que hoje tenho muito apoiamento dentro da Câmara. Não só no meu partido, mas em partidos como PSD, Solidariedade, PTB, PDT, PSB. Deputados que
já manifestaram simpatia pelo meu nome. Estive agora no curso Renova BR e muitos deputados jovens me procuraram também. Acaba que mescla um pouco com alguém de um partido de centro, dá estabilidade para a Câmara. Mas também alguém de primeiro mandato, com perfil mais clean, vamos dizer assim. Acho que é cedo para especulações. Vamos tratar com prudência. Tem gente a mais tempo na fila. Costumo respeitar a fila. Mas se saírem da fila… (risos)

 

“Primeiro, temos que fazer justiça ao presidente Bolsonaro. Faço críticas, mas sei reconhecer as atitudes dele. O crédito de IPI já era para ter baixado a 8% no meio do ano passado e ele teve coragem de publicar decreto mantendo em 10%”.

Exclusiva: Na sua opinião, quais as chances do Amazonas em relação ao fim do IPI previsto até o último ano do mandato do presidente Bolsonaro?

Marcelo Ramos: Primeiro, temos que fazer justiça ao presidente Bolsonaro. Todo mundo sabe que vez ou outra faço críticas a ele. Mas sei reconhecer as atitudes dele. O crédito de IPI já era para ter baixado a 8% no meio do ano passado e ele teve coragem de publicar decreto mantendo em 10%. Nós estamos nos esforçando para convencê-lo a publicar decreto estabelecendo 8% sem escadinha. Para dar segurança jurídica a quem aqui está instalado. Se nós tivermos um crédito presumido de 8% e o reconhecimento pela Receita Federal desse crédito, porque ainda tem um outro problema: a Receita Federal não reconhece esses créditos e autua quem gera esses créditos. Uma aberração. O Supremo decide uma coisa, tem um decreto dizendo uma coisa e a Receita diz q não. Parece um poder acima dos poderes.

 

“A floresta não tem riqueza nenhum. Não tem nada que você tire de lá e ponha na prateleira do supermercado”

Exclusiva: O presidente realmente passa a impressão de gostar de Manaus, quando está aqui. Mas ao mesmo tempo me parece muito confiante no trabalho equipe econômica dele e esta, por sua vez, dá sinais de coerência desde o início: criar alternativas e encerrar com a renúncia fiscal.

Marcelo Ramos: A ZFM vai viver quatro anos de turbulência porque o pensamento econômico do ministro Paulo Guedes tem dois pilares: combate à renúncia fiscal e abertura comercial. Portanto, a ZFM é a contradição dos pilares do pensamento dele. Então, vez por outra, vai confrontar não tem jeito. O que temos que tomar muito cuidado é com esse discurso que parece fácil construir uma nova alternativa econômica. Estamos falando de uma alternativa econômica que gera, só de ICMS praticamente R$ 9 bilhões, gera 50, 60 mil empregos. Já chegou a gerar mais de 100 mil. As pessoas dizem assim: Ah, a floresta tem muita riqueza. Não. A floresta não tem riqueza nenhum. Não tem nada que você tire de lá e ponha na prateleira do supermercado. Tem que transformar o que tem lá em um produto de prateleira. E isso só se faz com pesquisa, desenvolvimento e inovação. Só se faz com CBA (Centro de Biotecnologia do Amazonas) funcionando. Muita coisa que perdemos da ZFM não foi para ninguém, foi para o futuro. Perdemos o discman, o vídeo cassete. Alguém tirou? Não. Perdemos porque deixou de existir. Hardware é o que cada vez mais vai deixar de existir. Então, precisamos nos preparar para o futuro: bioindústria, software e turismo.

Exclusiva: A reforma tributária pode ocorrer ainda este ano? E como distanciar a ZFM dos riscos, como por exemplo do imposto único, previsto na proposta que tramita na Câmara dos Deputados?

Marcelo Ramos: Fizemos uma reunião da bancada com técnicos do governo e chegamos à conclusão que na PEC 45, que tramita na Câmara, não tem saída para a ZFM. Ela veda renúncia fiscal, muda o momento da apuração do imposto da origem para o destino. Aqui produzimos muito e  consumimos pouco. Isso derrubaria em 50% nossa receita de ICMS e ela acaba com ICMS. Muitas das indústrias da ZFM, além dos incentivos dos impostos federais, têm incentivo de ICMS. Conversei com o presidente Rodrigo Maia que um caminho para a gente tentar unificar uma proposta federativa aceitável, que não tire dos Estados o poder de tributar, que é essência do federalismo, é criar, ao invés de um imposto único, um imposto sob valor agregado. Um federal e um estadual. O federal seria a unificação do PIS, COFINS e IPI. O estadual ICMS e ISS.

Exclusiva: O senhor está inserido em outra polêmica que é a prisão em segunda instância.

Marcelo Ramos: Tudo que é confusão me chamam. Entendemos que precisamos ter um sistema simétrico e entregar ao País uma poder judiciário mais célere.

 

“Sobre os últimos acontecimentos em relação à bancada e a Suframa, me parece que há uma incompatibilidade absoluta. E, diante de uma série de fatos que tem chegado a mim, parece que nossa conversa daqui para frente será na polícia e não na política”.

 

Exclusiva: Queria que senhor falasse sobre a relação da Suframa com a bancada federal. Há desentendimentos mais recentes protagonizados pelo senhor e pelo superintendente, coronel Menezes. Está posta uma relação que é de antipatia. A gente percebeu isso no ano passado em várias situações. Há uma guerra de vaidades? Quem ganha e quem perde com isso?

Marcelo Ramos: Os legítimos representantes do povo do Amazonas são aqueles que o povo do Amazonas escolheu. Portanto, a bancada federal é que está legitimada para representar o povo do Amazonas e precisa ser respeitada como tal. Nós sempre tivemos uma atitude de respeito e de reconhecimento da autoridade do superintendente da Suframa e do Ministério da Economia. Agora, somos intransigentes na defesa do emprego  dos trabalhadores amazonenses. Nós não defendemos os nossos empregos, defendemos o emprego dos amazonenses. Isso vez por outra gera conflitos de entendimento, pensamentos e visão de mundo. Agora, sobre os últimos acontecimentos em relação à bancada e a Suframa, me parece que há uma incompatibilidade absoluta. E, diante de uma série de fatos que tem chegado a mim, parece que nossa conversa daqui para frente será na polícia e não na política.

 

“Não vou disputar a Eleição de 2020. Estou muito feliz, muito realizado”

 

Exclusiva: Em relação às Eleições 2020, há informações de uma tentativa de viabilizar o nome da deputada Joana Darc para ser candidata com apoio do governo, há informações de que o ex-deputado Alfredo Nascimento possa ser lançado com apoio da prefeitura e que o senhor possa ser candidato também. Como virá o PL nesta eleição?

Marcelo Ramos: A gente ainda não fez nenhuma reunião formal para tratar sobre isso. Agora, da minha parte, tenho uma decisão tomada: tenho uma responsabilidade com o povo brasileiro. Tenho nas minhas mãos a matéria mais importante sobre a qual estão os olhares do povo brasileiro que é a questão da prisão em segunda instância. Não vou contaminar isso com os interesses eleitorais. É uma decisão minha de não disputar a eleição de 2020.

Exclusiva: Irrevogável?

Marcelon Ramos: Não vou disputar a Eleição de 2020. Estou muito feliz, muito realizado. Firmei um compromisso com o povo do Amazonas e que as circunstâncias transformaram num compromisso com o povo brasileiro. Como disse, disputei sete eleições em dez anos. Isso é muito desgastante também. Acho que o Amazonas e Manaus vai escolher seu rumo. Espero que tenha um novo rumo. Já estamos no ano da eleição e todos os candidatos que existem são candidatos das suas vaidades. Nenhum está discutindo a cidade, ouvindo acadêmicos, fazendo diagnósticos, ouvindo movimentos sociais, conversando com lideranças. Sem diagnóstico da cidade, ninguém consegue apontar soluções.

 

“O processo sucessório é muito raso, muito desqualificado (…) Já estamos no ano da eleição e todos os candidatos que existem são candidatos das suas vaidades. Nenhum está discutindo a cidade”

 

Exclusiva: O senhor acha que teremos quantidade e não qualidade nas urnas, este ano?

Marcelo Ramos: Acho. Acho que está caminhando para isso. Em 2016, tive quase a metade dos votos, perdi no segundo turno, mas tenho absoluta
tranquilidade que contribui com a cidade. Não é só ganhar ou perder a eleição, é contribuir com a cidade. O que eu lamento é que o processo sucessório é muito raso, muito desqualificado e coloca em segundo plano, o que deveria estar em primeiro, que é enfrentamento do grave problema do sistema de transporte coletivo, do trânsito caótico de um sistema de saúde que a estratégia de saúde da família só cobre 33% da cidade. A atenção básica só cobre 45%. Então, tem milhões de pessoas fora da cobertura da atenção básica. Isso tem impacto na médica e alta complexidade. Me angustia não ver ninguém debatendo esse tipo de coisa, que verdadeiramente importa para a cidade.

Exclusiva: O PL vai ter candidato a prefeito?

Marcelo Ramos: Acredito que vai. É um dos maiores partidos do estado. Tem quatro vereadores, dois deputados estaduais. Espero que tenha, mas até agora não houve debate interno.

 

“A bancada precisa ser agente de estabilidade para que o governo pudesse dar certo e encontrar seu rumo”

 

Exclusiva: O senhor mudou de atitude com o governo. Ano passado criticou, entrou com denúncias e agora participa de agendas com o governador e com o vice. Há possibilidade que estejam no mesmo palanque em 2020?

Marcelo Ramos: A minha proximidade com o governo não tem nenhuma relação eleitoral. A minha proximidade foi uma tática discutida pela bancada que, diante das dificuldades – e é natural a um governador que nunca tinha tido uma experiência e o vice também. Então, diante dessas dificuldades, nós precisaríamos ser agentes de estabilidade para que o governo pudesse dar certo e encontrar seu rumo. Isso é fundamental. Porque quando as coisas dão errado, quem sofre não é o governador, não é o deputado federal. Quem sofre é a população. Nós resolvemos, a bancada praticamente todo, fazer um gesto para o governo dizendo: conte conosco aqui. Não é nosso papel fazer oposição ao governo. Esse é um papel mais de deputado estadual. Nosso papel é de contribuir e procurar contribuir mantendo minha independência como sempre tive.

Exclusiva: Um ouvinte diz que, em 2016, o senhor usou o bordão “tem dinheiro, dá para fazer”, hoje é possível dizer isso?

Marcelo Ramos: Essa frase acabou virando chacota na eleição passada por muita habilidade da assessoria de marketing do meu adversário. Mas, passado o período eleitoral, quase que concluído o mandato, todo mundo sabe que com o dinheiro que a prefeitura tem daria para fazer muito mais. A prefeitura tem um orçamento de quase R$ 6 bilhões. Um orçamento robusto para o tamanho da população. E os resultados são pouco efetivos. Se tiver planejamento, se tiver um governo com metas, um governo que avalia seus secretários não pelas simpatias, mas pelo resultado dos seus trabalhos. Um governo que a cada final de ano faz um balanço do que se propôs e do que efetivamente alcançou, o dinheiro rende mais.

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