
A disputa pela presidência da ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas) ganha contorno em meio à turbulência do governo e o processo que analisa o impedimento do governador Wilson Lima (PSC) e do vice-governador Carlos Almeida Filho (PTB).
Cabe ao presidente da ALE-AM, no atual contexto de processos que podem alterar a administração política do estado, a substituição do chefe do poder executivo, em eventual afastamento de governador e vice.
Nesta terça-feira, dia 28, após críticas dos dois deputados da oposição ao governo e à base governista, a vice-presidente da ALE-AM e presidente da Comissão Especial de Impeachment, Alessandra Campêlo (MDB) fez longo discurso com foco na defesa moral dos deputados governistas.
A parlamentar, a exemplo do resto da base, não apresentou defesa do governo sobre as suspeitas de irregularidades levantadas na CPI da Saúde e na Operação Sangria da PF.
“Não vai ter gracinha de querer vir desmoralizar colega, que eu vou para cima”, afirmou Alessandra durante o discurso em defesa dos demais deputados, que preferem o silêncio.
Dermilson questionou como ficava a consciência dos deputados e deputadas diante das informações do depoimento da ex-gerente de compras da Susam, Alcineide Figueiredo.
O site de notícias UOL publicou matéria no sábado sobre o depoimento da ex-colaboradora do governo em que ela aponta um operador como elo entre a suspeita de fraude e o governador do estado, Wilson Lima (PSC). Disse também que a Susam sabia que os 28 respiradores não serviam para salvar vidas.
Dermilson cutucou o relator do processo de impeachment, o deputado Dr Gomes: “Uma pessoa que é medico, crente, vai pra igreja e diz que o relatório está pronto. Como fica o sentimento e o nome ao relatar o arquivamento?”.
O deputado Wilker Barreto (Podemos) também provocou os governistas, ao afirmar que não havia problema ser base ou ser oposição e que o erro seria apoiar “corrupção”. Para ele, há fatos que comprovam corrupção no atual governo.
Não é a primeira vez que Alessandra adota discurso de proteção dos parlamentares governistas, em meio à preferência que a base faz pelo silêncio diante da necessidade de defesa do governo sobre as acusações que surgem na CPÌ da Saúde e na Operação Sangria.
Durante um discurso sobre a legislação estadual do gás em que o presidente da ALE-AM, Josué Neto (PRTB), atacou governistas com palavras rudes e ofensivas, Alessandra Campelo foi à tribuna defender os demais deputados. Isso ocorreu há cerca de duas semanas.
Em outros momentos, a parlamentar que tem perfil combativo e de confronto adota postura simpática e convergente com os demais deputados, inclusive com o presidente Josué Neto.
Questionada pela reportagem se era candidata à presidência da ALE-AM, Alessandra Campêlo respondeu que “até o momento” isso não foi discutido. A deputada não identificou quem deveria discutir o assunto.
“Estou focada em ajudar a resolver os problemas da população. Apresentar emendas para aperfeiçoar a LDO. E apresentar projetos de leis para melhorar a vida da população”, afirmou.
Quem quer ser presidente?
Antes do escândalos da pandemia, da troca de secretários e das guerras de grupos internos do Governo Wilson Lima, o deputado Saullo Vianna (PTB), aliado do vice-governador Carlos Almeida Filho, figurava entre os favoritos para a sucessão de Josué Neto.
No final do ano passado, houve confronto entre os dois em reuniões da ALE-AM tendo a convergência de Saullo com o então adversário político de Josué no governo, Carlos Almeida, como pano de fundo.
Pré-candidato a prefeito de Manaus e com a fragmentação dos grupos de deputados que o elegeram presidente da ALE-AM, em fevereiro do ano passado, o deputado Josué Neto nega interesse em disputar a reeleição. Os discursos de confronto com os eleitores da disputa da mesa diretora não sinalizam postura de quem quer votos.
A reviravolta que tirou Carlos da Casa Civil e a dependência do governo do resultado da Comissão Especial de Impeachment deu nova configuração à disputa pela presidência da casa legislativa, tirando Saullo Vianna e colocando Alessandra em evidência
Contado como deputado da base, Saullo votou com o governo em todas as votações para a formação da comissão especial de impeachment, mas se absteve quando Alessandra Campelo foi escolhida pela maioria para presidir a comissão que pode definir o futuro de Wilson Lima.
Questionado se seria candidato à presidência, Saullo respondeu: “Um dia eu chego lá. Tem muita gente na minha frente na fila”.
Outro nome corre por fora, segundo deputados ouvidos pela reportagem, é o do deputado Belarmino Lins (PP), o decano entre os parlamentares e que presidiu a ALE-AM por duas vezes.
Belão afirmou que, neste momento, está focando nas eleições municipais do interior e “da grande Manaus”. Sobre a disputa à presidência do poder legislativo, o deputado respondeu: “Ainda teremos bastante estrada a percorrer”.
Quem preside a ALE pode governar
Na hipótese de uma cassação de governador e vice, seja por meio da justiça eleitoral ou pelo parlamento, a legislação prevê que o presidente ou presidenta da ALE-AM exerça um governo tampão até realização de novo pleito. Foi assim que David Almeida (Avante) virou governador tampão com a cassação de José Melo e se projetou para cargos majoritários.
Se uma cassação ocorrer nos dois primeiros anos de mandato, a população elege o novo governo. Caso ocorra nos dois últimos anos, por hipótese, a partir de janeiro do ano que vem, os eleitores são os 24 deputados da ALE-AM.