
Enquanto o governador do Amazonas Wilson Lima (PSC) coleciona viagens e exposições políticas negativas, o vice-governador Carlos Almeida Filho (PRTB) ocupa espaços hoje que não eram comuns à função em governos anteriores.
Mostra da diferença da atual vice-governança foi a viagem desta quinta-feira, dia 6, a Eirunepé, na companhia de nove deputados estaduais.
Os girassóis só se viram para onde há luz. Também é assim na política.
A entrega de kits a Eirunepé com a demonstração de alinhamento de deputados ao governo se deu enquanto o governador Wilson está numa viagem de mais de uma semana a Israel, sem justificativa clara do quanto será importante para o governo dele.
De quebra, o governador ainda trará na bagagem mais uma exposição negativa do ponto de vista político com o episódio do conflito com os árabes palestinos.
Em formação
Só o fato do vice-governador e governador em exercício Carlos Almeida ir ao evento na companhia de nove deputados estaduais já é suficiente para chamar atenção.
Isso porque o governo passou cinco meses sem uma definição clara da composição da base aliada na ALE-AM (Assembleia Legislativa do Estado).
Carlos foi convidado pelos parlamentares a ir no jato alugado por eles. A imagem do executivo emoldurado por membros do legislativo no interior do Estado há tempos não se via. Desde que o ex-governador José Melo (Pros) foi cassado.
Diferentão
É um retrato diferente e merece ser observado.
Vices sempre foram reservados, silenciosos, sem autonomia ou execício de poder. Carlos Almeida iniciou o governo na pasta mais disputada e mais problemática também: a Saúde.
Saiu diante de um conflito interno do governo que derrubou, até aquele momento, o homem forte de Wilson Lima: o ex-secretário e empresário Marcelo Alex. O vice foi para o Palácio da Compensa ocupar um espaço de não menor importância: a Casa Civil. Na Susam, deixou pessoas de sua confiança.
Relações institucionais
Carlos Almeida Filho tem sido a ponta da lança na articulação com outros poderes e, sobretudo, neste momento de organização da base aliada com os deputados estaduais. Não que os parlamentares não tenham tentado se aproximar do governador Wilson Lima.
A forma de atuação do vice, que também não tem experiência e perfil político, já criou alguns arranhões para ele e não tornou o governo forte em relação à composição de aliados.
Na Susam, houve queixa de membros do MP-AM sobre “o jeito dele”. Na ALE-AM, porém, há uma interpretação que o vice-governador interage, ouve e é menos neófito na articulação política.
Caneta com tinta
Em função das várias viagens do governador – mais de um mês viajando nos cinco meses de mandato – Carlos ficou no exercício da tomada de decisão.
Nem quando o titular se ausentava, era assim em governos passados.
Carlos não é, como foram outros, um vice com caneta sem tinta. Quando está no exercício do governo e quando é só vice tem influência e começa a ser o mais procurado para a solução das “broncas”.
Boa relação
Interlocutores de Wilson Lima e de Carlos Almeida afirmam que os dois tem uma relação muito boa, de confiança e respeitosa.
É possível perceber este alinhamento quando há coberturas da mídia em que governador e vice aparecem juntos.
Memória
Para se ter ideia de como eram os tratamentos com os vices anteriormente, o então governador e hoje senador Eduardo Braga (MDB) se negou a passar a faixa para o seu substituto em 2010, hoje também senador Omar Aziz (PSD).
Durante todo o período que precedeu a saída de Braga e durante a campanha de 2010, a fala de Omar era sempre de dar protagonismo ao antecessor.
Mas, no meio político, o comentário é que Omar “tolerou” o ex-aliado enquanto durou os dois mandatos em que ele foi vice. Não teve espaço e nem cargo de secretário.
O ex-governador José Melo, quando vice de Omar Aziz e quando secretário de governo de Eduardo Braga tinha uma conduta cuidadosa com os holofotes e as falas eram, via de regra, elogiosas aos líderes do grupo.
Aceitou calado muitas decisões que o alijaram do espaço de destaque no grupo até se tornar vice com indicação de Braga e depois governador com o apoio de Omar. Em processos movidos pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) foi chamado de “bajulador mor” de Eduardo Braga, em 2010.
O ex-vice-governador Henrique Oliveira não teve espaço no Governo Melo. Emprestou seu prestígio eleitoral na campanha de 2014 porque José Melo era pouco conhecido em Manaus e carrega até hoje o desgaste da união que não somou politicamente para ele.
O ex-vice-governador Bosco Saraiva foi secretário de Segurança de Amazonino Mendes, o que o beneficiou na conquista da vaga de deputado federal em 2018. Mas nem de longe se compara ao espaço no governo que tem o vice Carlos Almeida Filho.
Foto: Vice-governador Carlos Almeida Filho e deputados estaduais em Envira. Foto: Governo do Amazonas