“Uso preto porque sou patriota”, afirma professor durante protesto de 7 de setembro

Cerca de 300 pessoas se reuniram neste sábado, dia 7, à tarde na Praça da Saudade, Centro de Manaus, para realizar o #Dia7EuVoudePreto em protesto contra o Governo Bolsonaro, na cidade que deu ao presidente 65, 72% dos votos válidos nas Eleições 2018, há praticamente um ano, e que é referência geográfica na região amazônica.

O protesto foi convocado em todo País pelas redes sociais após o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) exortar as pessoas a se vestirem de verde amarelo neste dia 7 de setembro para “mostrar ao mundo” que a Amazônia “é nossa” – tema que repercutiu negativamente o nome do Brasil nas últimas semanas, na mídia internacional.

Nem os que se vestiram de verde amarelo e nem os de preto registraram grandes mobilizações neste 7 de setembro em Manaus e em outras capitais, mas pautaram novamente o conflito sobre o amor e respeito ao País e o uso dos seus símbolos nacionais.

Na manifestação da Praça da Saudade, havia poucas bandeiras e militantes de partido, neste sábado. Com isso, as manifestações espontâneas de estudantes, diante do baixo público, se destacaram.

O professor da rede pública do Estado, Rafael César, disse que usa preto porque é patriota.

“Somos os verdadeiros patriotas”

O professor da rede pública do Estado, Rafael César, quebrou o protocolo das falas de críticas e ataques ao presidente da República Jair Bolsonaro. Ele usou o carro de som para questionar “o modelo ultrapassado” de protesto que, para ele, “não vão nos salvar do fundo do posso”.

“Como vamos explicar o verdadeiro sentido da palavra cristã para o cristão que acredita num Crivella da vida (Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro). Com musiquinha? Com batucada? Com carro de som no Centro esvaziado? Ou a gente vai tomar vergonha na cara e vai no Paço com um monte de jovem e vai tirar o nosso dia do folga e explicar, de um a um: eu uso preto porque eu sou patriota”, afirmou Rafael César causando silêncio e a atraindo a atenção de quem estava no protesto.

O professor falou sobre o incômodo que causa a ele a deturpação do uso das cores da bandeira e o fato que gerou a organização do protesto com o uso da cor preta. Ele também constatou a desmobilização dos protestos de ruas desde o dia 15 de maio, quando o governo foi questionado massivamente em todo País pelas alterações na pauta da educação.

“A gente que usa preto é que somos os verdadeiros patriotas. Não vou colocar verde a amarelo. Vamos fazer uma revolução olhando no olho. Enquanto eles vão distribuir Fake News pelo WhatsApp., a gente vai fazer o quê? Do dia 15 para cá, o número só diminui. E isso, em hipótese alguma, diminui a luta de cada um de nós”, disse.

O professor acrescentou que o uso do verde e amarelo, diante das propostas do atual governo, tem conotação reversa e disse que os movimentos sociais precisam pensar alternativas para se contrapor à agenda política colocada em prática pelo Governo Bolsonaro .

“Embuste” no uso do verde e amarelo

“A gente tem que pensar quais as estratégias. O Bolsonaro veste verde e amarelo para enganar a população e ele está destruindo o Brasil. Destruindo o futuro das próximas gerações. Temos que explicar que esse verde e amarelo é um  embuste. Nós somos patriotas, não vamos abandonar o nosso País. Custe o que custar, nós vamos salvar este País”, declarou.

Sem ocupar o espaço da fala no microfone, três amigos, todos com 15 anos e estudantes do primeiro ano do ensino médio de escola estadual em Manaus caminhavam na Praça da Saudade exibindo os cartazes feitos na cartolina e papelão e chamaram atenção de cinegrafistas que cobriam o ato.

Ativismo aos 15 anos

Os estudantes da rede pública Enrico Valenza, Bruno Rodrigues e Ana Beatriz Mendonça participaram do protesto.

Vestidos de preto e com o rosto pintado de verde e amarelo, Enrico Valenza, Bruno Rodrigues e Ana Beatriz Mendonça levaram ao protesto as frases: “Mais ignorante do que apoiar esse desgoverno é acreditar que sem a Amazônia se vive”, “Educação e mito não combinam”.

Bruno contou que, há algumas semana, ele e os amigos resolveram criar um perfil no Instagram (@consciousnextt) para pesquisarem e divulgarem mais informações sobre a Amazônia e a importância da região.

“Nós queremos saber mais sobre a Amazônia e também que todos saibam o quanto ela é importante para o mundo. A ação humana pode acabar com a Amazônia. Nós resolvemos lutar, porque nossa geração é que vai sofrer com tudo isso. Queremos realizar nossos sonhos. E para que a nossa esperança volte temos que lutar por políticas possíveis. Fazer acontecer. Não podemos apoiar quem é totalmente contra os indígenas, à Amazônia, ao desmatamento. Sem Amazônia, não há vida”, declarou o estudante de 15 anos Bruno Rodrigues.

Os três explicaram que o perfil surgiu para mostrar que jovens e crianças têm vozes.

“Meus pais e avos não são muito ligados neste assunto, o que é uma pena. Mas o pai do Enriko conversa com a gente. Por conta disso, comecei a pensar o quanto é importante lutar pelo nossos direitos e pelo direitos dos outros”, afirmou Bruno.

O estudante de Letras da UEA, Douglas Batista, 20, disse que participava do ato por rejeitar atitudes e medidas homofóbicas, de intolerância, de exortação à violência e destruição do meio ambiente. Douglas afirmou que não está integrado a nenhum movimento estudantil ou partidário, mas que participou de todos os atos de protesto convocados contra o Governo Bolsonaro este ano.

Protesto no Centro de Manaus neste 7 de setembro reuniu cerca de 300 pessoas vestidas de preto

Estudante diz ter esperança que percepção das pessoas mude

Apesar da diminuição de público, criticada no discurso do professor Rafael César, Douglas se disse esperançoso com o futuro do País e a resistência a retrocessos sobre as conquistas sociais e democráticas.

“Eu acho que as pessoas não apoiam isso. Até quem votou nele (Bolsonaro). Elas não querem isso. Muita gente saiu do lado de lá, mas elas não se sentem representadas pela esquerda e pela oposição”, afirmou.

Fotos: Rosiene Carvalho